domingo, abril 20, 2008

Faleceu em ultimo um dos primeiros







Morreu Aimé Césaire, o poeta da “negritude”
Aimé Césaire, 1913-2008
Uma das principais vozes na luta contra o colonialismo francês
Morreu Aimé Césaire, poeta da “negritude”
Aimé Césare, uma das principais vozes do Movimento Negritude, morreu hoje aos 94 anos, num hospital em Fort-de-France. O escritor de Martinica encontrava-se hospitalizado há cerca de uma semana devido a problemas cardíacos.
Ao lado do senegalês Léopold Senghor e Léon-Gontran Damas da Guiana, Césaire participou na corrente da “negritude”, um movimento político e literário criado nos anos 30 para combater o colonialismo e racismo francês. O autor do “Diário de um Regresso ao País Natal” dedicou toda a sua vida à poesia e à política, tendo sido presidente da Câmara de Fort-de-France durante 56 anos (1945-2001) e deputado (1945-1993).
Na comemoração do 94º aniversário de Aimé Césaire em 2007, o presidente francês homenageou o poeta, apelidando-o de “homem de acção”, “portador de uma mensagem de paz, de tolerância e abertura”, numa carta tornada pública pelo Eliseu. Contudo, a relação entre o poeta e Nicolas Sarkozy nem sempre foi pacífica. Em 2005, Aimé Césaire recusou encontrar-se com o então ministro do Interior numa viagem de Sarkozy às Antilhas,que depois viria a ser anulada. Finalmente, em 2006, o poeta recebeu o actual Presidente francês.
Além de poesia, Aimé Césaire tem uma vasta obra publicada nas áreas do teatro, ensaio e história. Em Portugal estão publicadas, entre outras, as obras “Discurso Sobre o Colonialismo” (1978) e “E os Cães Deixaram de Ladrar” (1975).
Filipa Cardoso
Fonte: Público
Aimé Césaire homenageado em únissono em França
Paris, França (PANA) - O Presidente francês Nicolas Zarkozy declarou quinta-feira que “toda França está enlutada” pelo falecimento na manhã do mesmo dia em Fort-de-France (Martínica) do escritor, poeta e político martiniquês, Aimé Césaire, aos 94 anos de idade.
“Quero saudar a memória de um grande poeta que adquiriu a sua notoriedade pela qualidade da sua escrita. Ele foi, com Léopold Sédar Senghor (primeiro Presidente do Senegal), promotor do conceito de Negitude”, indicou Sarkozy, associando a sua voz à homenagem unânime ao intelectual martiniquês.
“Pelo seu apelo universal ao respeito pela dignidade humana, à tomada de consciência e responsabilidade, ele permanecerá um símbolo de esperança para todos os povos oprimidos. Continuará a ser para nós todos uma das figuras emblemáticas da classe política ultramarina”, sublinhou.
Por sua vez, o secretário-geral da Organização Internacional da Francofonia (OIF), Abdou Diouf, saudou “a memória de um homem que consagrou a sua vida aos múltiplos combates levados a cabo em todos os campos de batalhas onde estava em jogo o destino cultural e político dos seus irmãos de raça”
“Aimé Césaire manifestou admiravelmente nas suas escritas aquilo que uma ilustre figura do surrealismo qualificou de ‘talento de canto, a capacidade de recusa e o poder de transmutação’”, escreveu o ex-chefe do Estado senegalês, saudando “o homem que viveu a sua francofonia na abundância das suas obras”.
Para o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kouchner, Aimé Césaire ficará “o poeta e dramaturgo inspirado na negritude que ilustrará a vocação da França para o universalismo e os seus laços profundos com os Caraíbas, as Antilhas e o continente africano”.
“Para todos os combates que levava pela humanidade, Aimé Césaire foi, como ele próprio o desejava, nas suas primeiras obras “Cahier d’un retour au pays natal” (caderno de um regresso ao país natal), um judeu, um cafre, um hindu de Calcutá, etc”, disse Kouchner.
“França não o esquecerá”, assegurou o chefe da diplomacia francesa, convidando os institutos e centros culturais franceses no mundo a renderem nos próximos dias homenagem “a esta grande figura humanista valorizando a riqueza e a diversidade da sua obra”.
Num comunicado publicado em Paris, a Associação Parlamentar da Francofonia (APF) afirmou que, “ao exemplo do seu irmão Léopold Sédar Senghor, Aimé Césaire contribuiu para a existência de uma francofonia de diversidade, que respeita o génio dos povos”.
“Os parlamentares francófonos lamentarão este homem de letras, um dos grandes poetas do mundo francófono, ilustrador incomparável da contribuição das línguas e das culturas para a história universal”, estimou a APF.
Por seu turno, o primeiro secretário do Partido Socialista Francês (PS), François Hollande, sublinhou que Aimé Césaire defendeu, enquanto político, durante toda a sua vida, os valores da Esquerda.
“Ao longo dos seus mandatos de governador, deputado de Port-de- France, actuou ao lado dos que lutam pelo reconhecimento dos seus direitos e da igualdade social”, insistiu Hollande.
O presidente da Assembleia Nacional francesa, Bernard Accouye, anunciou quinta-feira ao fim da manhã que “uma homenagem particular” será rendida a 29 de Abril a Aimé Césaire que representou sem discontinuar a Martínica no Parlamento francês de 1946 a 1993.
Dramaturgo, poeta, ensaista e romanceiro, Aimé Césaire foi, com o senegalês Léopold Sédar Senghor e o guianês Léon-Gontran Damas, o fundador do movimento da Negritude, o orgulho de ser negro.
Convicto de que o combate deveria começar onde tomou raízes a opressão, Aimé Césaire tinha convidado as diásporas africana e antilhana a voltarem à “terra natal” numa colectânea de poesias intitulada “Cahier d’un retour au pays natal” publicada em 1939.
Depois publicou “La tragédie du roi Christophe” (A Trágédia do rei Christóvão”, uma peça teatral que se tornará numa clássica dramaturgia negro-africana”.
Fiel às suas convicções políticas iniciais, Aimé Césaire recusou-se a receber em 2005 em Fort-de-France Nicolas Sarkozy, então ministro francês do Interior, a quem atribuia a culpa de uma disposição da lei francesa que realça “os benefícios da colinização”.
Quando foi abrogado o artigo da lei controversa, Sarkozy acabará por ser recebido por ele dois anos mais tarde enquanto candidato da União para um Movimento Popular (UMP, partido no poder na França) à presidência da República.
Fonte:Panapress

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