domingo, maio 04, 2008

Guerra,Descolonização e tentativa de branqueamento da História.







Guerra, Descolonização e tentativa de branqueamento da História

Dois intelectuais distraídos e um provedor paternalista…



Por Cor. Manuel Amaro Bernardo
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(…) A impotência ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que fizeram as autoridades portuguesas durante a transição (em Angola) foi crime de traição e crime contra a humanidade. (…).
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António Barreto, in “Público” de 13-4-2008.

(…) O que é que movia quem se recusava a fazer a guerra colonial? Ideologia, “anticolonialismo”, (…). De tudo um pouco, mas, bem vistas as coisas (…) é a mesma atitude que vejo nos homens de 1961, que aparecem nesta série televisiva: patriotismo. (…)
José Pacheco Pereira, in “Público de 19-4-2008.
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Através dos comentários produzidos por estes dois professores e historiadores, de que as transcrições acima feitas dão uma perspectiva do seu pensamento, poderei deduzir que eles têm andado demasiado distraídos em relação ao sucedido em África, quer na guerra iniciada em 1961, quer na apressada descolonização levada e efeito no pós-25 de Abril. E nem poderão desculpar-se com a falta de livros publicados sobre o assunto, pois vários têm sido os autores a investigar e a recolher depoimentos de responsáveis e combatentes do Ultramar, entre os quais me incluo. A título de exemplo, lembro o caso de José Freire Antunes, com, entre outros, dois grandes volumes (1.070 pag.s em A 4), com o título “Guerra de África” (1995) e de António Pires Nunes, historiador (licenciado) sobre temas relacionados com Angola, onde cumpriu três comissões por imposição, desde 1961. O seu último trabalho, publicado em 2005, na minha editora (Prefácio) intitulava-se “Angola 1961; da Baixa do Cassange a Nambuangongo”.
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Curiosamente, no mesmo trimestre (último de 2007) em que Américo Cardoso Botelho lançou o seu livro “Holocausto em Angola”, que tanta perplexidade e surpresa causou a António Barreto, publicou a historiadora Dalila Cabrita Mateus (também oriunda da esquerda), em co-autoria com Álvaro Mateus, a polémica obra “Purga em Angola; Nito Alves, Sita Valles, Zé Van Dunem; o 27 de Maio de 1977”, e eu, o livro “Guerra, Paz e os Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980.


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As incorrecções de António Barreto
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Debrucemo-nos sobre a coluna de António Barreto e que alguma polémica provocou na Internet, nomeadamente pela transcrição de uma carta de Rosa Coutinho a Agostinho Neto e que, desde há muito, se sabia ser uma montagem, publicada num jornal sul-africano. Dois jornalistas que acompanharam os acontecimentos do pós-25 de Abril em Angola, Ferreira Fernandes (agora no DN) e Artur Queiroz vieram a terreiro confirmar essa situação. No entanto, tal não quer dizer que Rosa Coutinho não tenha permitido torturas e prisões arbitrárias a brancos (e não só), para fazer o “frete” ao MPLA, e ainda levasse a efeito saneamentos de oficiais (embarcados compulsivamente para Lisboa) que não lhe facilitassem esse desiderato, Tal foi-me confirmado por alguns oficiais, como o Cor. Pil. Av Alcino Roque e os Generais Altino Magalhães, Alves Ribeiro e Heitor Almendra, em entrevistas, em 1995, para o meu livro “Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975” (Ed. Prefácio/2004). Aquele almirante, também entrevistado para este trabalho, disse-me ter dado igual tratamento aos três movimentos de libertação e que apenas conseguira evitar a marginalização do MPLA, contra a vontade do então Presidente da República, General António de Spínola. Depois da minha insistência lá confirmou o apoio ao MPLA: “Isso foi já depois de ter saído de Angola, Apenas tomei partido pelo MPLA após ter regressado a Lisboa.”
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Recordo que como resultado do Acordo de Alvor tinha sido montado em 31-1-1975, um governo de transição com elementos dos três movimentos, MPLA, FNLA e UNITA, e sendo nomeado Alto-Comissário, o General Silva Cardoso. No entanto, ainda em Fevereiro o MPLA iniciou a luta contra os outros movimentos e em meados de Julho já tinha conseguido expulsar a UNITA e a FNLA de Luanda. Em finais deste mês o General Silva Cardoso demitiu-se do cargo por “não querer alinhar com o MFA” no apoio ao MPLA, e depois de ter dado ordens para a retaliação contra a sede deste partido em Vila Alice, que se realizou e foi devastadora para este partido. Assim em 22 de Agosto, o Conselho da Revolução, em Lisboa, acabou por suspender a vigência do Acordo de Alvor, mantendo a data da independência para 11 de Novembro seguinte. Uma semana depois o Almirante Leonel Cardoso tomou posse do cargo de Alto-Comissário, sendo Comandante-Chefe Adjunto o Cor. Heitor Almendra, graduado em general. Julgo que ninguém irá concluir que estou a fazer a defesa do comportamento de Rosa Coutinho em Angola; mas, como se diz na minha terra, “o seu a seu dono”.
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A efectivação de um julgamento popular em Luanda de sete indivíduos, por um Tribunal Revolucionário do MPLA, que os fuzilou de imediato nas imediações e descrito no livro em causa, ocorreu em 27 de Agosto de 1975, já quando este movimento dominava completamente a cidade de Luanda, na sequência dos referidos conflitos internos.
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Depois de descrever este acontecimento, António Barreto vem afirmar:
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“(…) As forças militares portuguesas e os serviços de ordem e segurança estavam ausentes. Ou presentes como espectadores.
“ A impotência ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que fizeram as autoridades portuguesas durante a transição foi crime de traição e crime contra a humanidade. (…)
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E para chegar a esta “brilhante” conclusão baseou-se na atrás citada carta falsificada (datada de 1974) que Cardoso Botelho publicou no seu livro e de que, a seguir, transcreveu significativos textos…, indo ao cúmulo de dizer que tais gestos das autoridades portuguesas deixaram semente (!?), para os golpes e contragolpes de 27 de Maio de 1977. António Barreto poderia ter tido maior cuidado com a credibilidade que atribuiu a tal documento… e tentar perceber o que vem sucedendo em África, desde há várias décadas: Lutas tribais imparáveis e vinganças em relação às ligações anteriores de populações e combatentes com o colonizador.
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Foi isso que concluí com o sucedido nos milhares de fuzilamentos clandestinos ocorridos depois das independências, não apenas em Angola, mas também em Moçambique, Timor e Guiné e explicitados em livros que publiquei desde 1999, sobre estes três territórios.
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Entretanto, Joaquim Vieira, Provedor do “Público”, na edição de 27 de Abril passado, veio escrever este incrível texto:
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“ (…) Em suma, o Público está sujeito que uma situação idêntica (à de António Barreto sobre Rosa Coutinho) venha a repetir-se. A responsabilidade não será de quem escreve, mas de quem publica”.
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Isto não é assim. Quem escreve assume total responsabilidade do artigo publicado e, no caso de participação para Tribunal, por crime de difamação ou outro, será ele a responder judicialmente, como aconteceu em 2007 com um indivíduo, que me difamou num semanário. Quando o texto não é assinado é que a responsabilidade criminal será atribuída ao director do jornal. Independentemente do que aqui refiro, não estou a ver qual será o comentador habitual e responsável que queira ficar sujeito à censura interna da direcção/redacção. É que normalmente existe a verdade de cada um…

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Branqueamento da História…
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O branqueamento do sucedido no pós-25 de Abril em Portugal está ser feito por Otelo Saraiva de Carvalho, que, nesta efeméride dos 34 anos, se dividiu em deambulações por cá e pela “estranja” fazendo afirmações inconcebíveis e resultantes do facto de terem ficado prescritos os seus crimes cometidos a liderar os terroristas das Forças Populares 25 de Abril. Ele fora condenado na 1.ª instância, em 1987, em 15 anos de prisão pelo crime de terrorismo, com agravamento pelo Tribunal da Relação e do Supremo Tribunal de Justiça – 17 anos.
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Por proposta de Mário Soares antes de sair da Presidência da República, a Assembleia Legislativa aprovaria uma amnistia com os votos contra do CDS e PSD, onde se encontrava José Pacheco Pereira que, nos debates afirmou que Otelo não merecia ser amnistiado. Tal posição era baseada no facto dele, numa entrevista ao Expresso, ter afirmado que a morte de uma criança pelos terroristas das FP25 tinha sido um erro técnico. E acrescentava: “Este cinismo não pode ser amnistiado”.
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Continuavam por julgar os crimes de sangue que, segundo se constou, os deputados da maçonaria não consideravam poder ser amnistiados. Assim, de 2001 a 2003 decorreu a saga dos recursos, que acabaria com o desleixo de um magistrado do Ministério Público, que deixou expirar o prazo para se poder recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça. Tal conjuntura resultaria de uma decisão do Tribunal Constitucional, que, segundo o Juiz Adelino Salvado, “irá também acontecer no caso da Casa Pia e vai levar ao aniquilamento do sistema” (António José Vilela/2004).
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Assim, Otelo acabou por “virar santinho” e, na sua opinião, uma vítima do sistema, permitindo-se que determinados órgãos de CS nacionais e estrangeiros lhe dêem cobertura mediática e tenha levado mesmo um deputado do PS, num recente programa da RTP1, a vir fazer a sua defesa e admoestar os deputados de PSD e CDS, lá presentes, por virem lembrar as suas responsabilidades nos actos vergonhosos praticados ao longo do PREC e da escabrosa actividade nas FP25. Espantoso!!!
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O “Patriotismo” de Pacheco Pereira
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Quanto ao artigo de José Pacheco Pereira, de 19-4-208, no “Público”, mercê da sua postura de “antifascista de longa data”, encontramos lá erros de palmatória. A certa altura afirma que “não havia negros bons a não ser na propaganda”, acabando por acrescentar o seguinte:
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“ (…) A série de Joaquim Furtado mostrou uma realidade que continuamos a esconder; é que aos massacres da UPA se seguiram os massacres dos portugueses, colonos e tropa, a que não escapava um racismo instrumental onde o único negro em que se podia confiar era no negro morto. Foi assim em 1961 (…)”
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Estas afirmações são demagógicas, pelo que aconselho que leia o referido livro do seu companheiro de partido, José Freire Antunes. Mas eu quero lembrar-lhe o seguinte. Nos grandes massacres desencadeados pela UPA, com o apoio dos EUA, entre 15 e 18 de Março, foram mortas cerca de 7.200 pessoas, sendo 1.200 brancos e 6.000 negros. Então como é que o problema pode ser colocado em termos racistas, se foram mortos cinco vezes mais negros do que brancos? Muitos negros que trabalhavam nas roças do café do Norte eram bailundos oriundos do Sul. Podemos falar é de problemas tribais e da grande violência generalizada, e não na maneira como Pacheco Pereira aborda o assunto.
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Também não é verdade que “aqueles soldados e oficiais portugueses que em 1961, quase sem nada, foram mandados para uma guerra para que não estavam preparados”, pois o Exército, com bases em instrutores enviados à Argélia, tinha montado em Lamego, em Abril de 1960, o CIOE (Centro de Instrução de Operações Especiais), para a instrução de contraguerrilha e por onde eu também passei em 1960 e no primeiro trimestre de 1961. Assim, em 1960, Angola já contava com quatro companhias de caçadores especiais e até Março de 1961 seriam desembarcadas mais sete destas companhias. Eu próprio (como alferes), que passei por Luanda, em Março, com destino a Moçambique, integrando os quadros de outras duas companhias de caçadores especiais, nunca julguei que iria seguir viagem até ao Ìndico, dada a situação complicada gerada em Angola. Mas como se esperava igualmente o eclodir da subversão naquele território, acabámos por continuar o percurso previsto. A minha companhia (CCE 80) seria colocada em Nova Freixo (hoje Cuamba), com uma zona de acção que ia do Rio Rovuma ao Rio Zambeze.
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Depois, torna-se absurda a argumentação de Pacheco Pereira quando, em termos de patriotismo, mete no mesmo “saco” os “portuguesinhos valentes, tão capazes de um heroicidade simples”, e os que constituíram a pequena minoria de refractários e desertores, como (acrescento eu) um político e historiador, que antes de fugir para o estrangeiro, ainda recebeu as ajudas de custo de embarque para África, ou um conhecido político e poeta, que esteve cerca de dez anos na Rádio Argel a colaborar com quem nos combatia em África..

Considero estranha a comparação feita, sobre “esta natural proximidade que”, na sua opinião, “devia envolver os homens desses dois mundos, cada um patriota a seu modo”; e com maior razão para mim, educado para defender a Pátria, que, na altura, considerava ser também constituída pelos portugueses residentes em África e que em grande número haviam sido vergonhosamente massacrados. Recordo que um jornalista inglês, presente em Angola, em 1961, afirmava que “nesses três dias, oitocentos civis portugueses tinham sido mortos da maneira mais atroz: feitos assassínios em massa, com muitas mutilações de cadáveres, após as violações de mulheres e crianças.”
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A História poderá ser provisoriamente manipulada, mas quando o tempo fizer sedimentar os dados recolhidos, o seu estudo e análise acabará por “produzir” uma verdade mais próxima da realidade.
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Cor Manuel Amaro Bernardo
30-4-2008
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in PortugalClub - destaques da responsabilidade do PortugalClub

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Nota de Victor Nogueira
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Posso apenas servir-me das minhas «memórias» e estas perdem-se nas brumas do tempo e nas mudanças do olhar.
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Mas perante tantos cronistas encartados que na Televisão e na auto-denominada «imprensa de referência», como Marcelo Rebelo de Sousa, Miguel Sousa Tavares, Nuno Rogeiro, Jorge Coelho, Santana Lopes, José Sócrates, António Barreto, Emídio Rangel e Vital Moreira, etc., etc., etc., abalizados fazedores de opinião pública e outros que peroram ou peroraram abalizadamente sobre tudo como se inclíticos descendentes do «renascentista» e genial Leonardo Da Vinci fossem, permitam-me estas opiniões «impressionistas» dum bloguista Zé Ninguém.
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De 1961 a 1966 vivi diariamente em Luanda e depois daí, estudante universitário apenas e até às Férias Grandes de 1972, posso dar a minha opinião, por vezes «impressionista», tal como os «sábios» «opinion makers» acima referidos, aceitando rectificações contudo fundamentadas às minhas «memórias».
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A «independência» do Congo ex-belga, nunca chamada à colação mas mais «assassina» ou «criminosa» que a Portuguesa nos moldes em que foi feita (recordemos o abandono dos colonos brancos e da secessão do rico Katanga, do apoio a Moise Tshombe e do assassinato de Lumumba, este apresentado como sanguinário analfabeto pela imprensa portuguesa - lembremo-nos também das «anedotas» sobre Samora Machel, (1) ... Lumumba, apesar de «protegido» pelos capacetes azuis no Congo Belga, que fora «propriedade particular» do imperador da Bélgica, teve a mesma «sorte» que os seus compatriotas no século XIX que, sob a pata do «venerável» Leopoldo II, foram assassinados: 50 % da população do Reino ou Império do Congo, pela Conferência de Berlim artificiosamente «dividido» entre Portugal, a Bélgica e a França. (2)(3)
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A chegada de levas de colonos brancos aterrorizados fugidos do Congo ex-Belga com uma mão à frente e outra atrás, foi habilmente explorada pela imprensa angolana ferreamente controlada pelo fascismo Português para «demonstrar» a inferioridade dos negros, selvagens incapazes de se autogovernarem.
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Considerados «mentecaptos» pelo fascismo salazarento português, os negros em África (durante séculos coisas e mercadoria escrava na América) eram considerados incapazes de viverem em democracia, tal como os brancos e as mulheres no Puto. Durante séculos Angola foi vasta colónia de degredo, para criminosos de direito comum ou presos políticos, de Portugal ou do Brasil. É verdade que os líderes dos chamados «terroristas» eram intelectuais negros, licenciados ou não pela salazarenta Universidade Portuguesa, como Agostinho Neto, Amílcar Cabral, ViriatoCruz, Eduardo Mondlane, Mário Pinto de Andrade ou Savimbi ...

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A tragédia do Congo teve influências negativas em Angola após os assaltos em Luanda à Cadeia Civil de S. Paulo, ao Quartel da Polícia Móvel e ao Forte de S. Fernando, ocorridos em 4 de Fevereiro de 1961, para libertar os presos políticos, e reivindicados pelo MPLA. Desses assaltos resultaram mortos apenas entre os assaltantes e as forças policiais, neste caso sete. O senhor Coronel Manuel Amaro Bernardo dá o seu testemunho sobre a preparação das forças militares portuguesas para a guerra de guerrilha e sobre a ausência de massacres sobre as populações negras.
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Eu, como muitos outros brancos, estávamos lá. Éramos brancos da 2ª geração, éramos brancos angolanos a quem Portugal nada dizia (veja-se o meu poema Raízes) e já dei testemunho com um saber de experiência feita dos massacres sobre as populações negras perpretados indiscriminadamente pelas milícias da Organização Popular de Vigilância e Defesa Civil de Angola no PortugalClub, no macua.blogs - 25_de_abril_o_antes_e_o_ agora e no Kant_O_XimPi (15 de Março de 1961)
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A benevolência do colonialismo ou o «luso-tropicalismo» de Gilberto Freire (4) são uma ficção, mesmo num país «exemplar» mas de facto racista como é o Brasil. Apenas e na sequência da Conferência de Berlim. nos finais da Monarquia - após o ultimatum do velho e «aliado» amigo e opressor e colonizador de Portugal, sobretudo na sequência do leonino Tratado de Methuen - e durante a 1ª Reoública, com as chamadas «Campanhas de Ocupação», se dominou aparentemente a resistência ao invasor estrangeiro, igual à enaltecida independência de Portucale ao Reyno de Leão ou à resistância de Portugal à ocupação do Castela ou às invasões napoleónicas.
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Os resistentes de Portugal à colonização do Portugal europeu, incluindo aos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) são considerados heróis exemplares, enquanto os resistentes na «Mãe-Pátria» eram apresentados como «agentes» e «traidores» a «soldo» de Moscovo e os das colónias eram apresentados como selvagens, sub-humanos, negros pagãos envolvidos nas trevas da idolatria e terroristas. Mas foi o carro do consul norte-americano em Angola que os «brancos» de Luanda atiraram à baía ou as missões evangélicas norte-americanas que foram depredadas. Na altura não havia ilusões nem «revisões» da história.
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O senhor Cor. Manuel Amaro Bernardo não refere o esclavagismo que era o «contrato de trabalho» em Angola e S. Tomé, denunciado mesmo por Henrique Galvão, anti-comunista e até certa altura defensor da «gesta imperial», nem os comprovados «crimes de guerra» silenciados pela censura do «democrático» fascismo português, de que são exemplo o genocídio sobre as populações camponesas negras, regadas a napalm, em greve face ao regime de monocultura imposto pela Cotonang para integrá-los na economia de mercado. Nem refere a «exploração» do chamado tribalismo entre congoleses e bailundos, «aproveitada» pelos fazendeiros do café no norte de Angola, como o fascismo e os latifundiários se aproveitavam da miséria dos «ratinhos» da Beira Baixa para impor baixos salários aos assalariados agrícolas alentejanos nas praças de jorna ou em greve por melhores condições de vida e de trabalho.
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Podem oficiais do Quadro Permanente, «retornados» e saudosistas de Salazar dizerem que a guerra estava militarmente ganha. Mesmo que assim fosse ela estava económica e políticamente perdida face à cegueira e ganância de quem económicamente sustentava o fictício e embaraçante poder de Salazar/Caetano. O esforço de guerra era feito pelos oficiais milicianos e pela «tropa» camponesa portuguesa que fugia e emigrava.
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Como confirmou o falecido e anti-comunista General Galvão de Melo, na RTP, o exército português na altura não estava preparado para uma guerra de guerrilha mas sim para uma guerra convencional. Como ele confirmou, Salazar foi antecipadamente informado pelo Governo norte-americano da revolta da UPA, que apoiava e financiava. Salazar nada fez para evitar os massacres e após o falhanço do ingénuo golpe palaciano de Botelho Moniz pronunciou o célebre «Para Angola em Força».
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As primeiras forças expedicionárias portuguesas foram recebidas em delírio ao desfilarem garbosamente em Luanda na mítica e bela Avenida Marginal Paulo Dias de Novais (embora adolescente, eu estava lá).
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É verdade que breve o entusiasmo dos «brancos» se transformou em menosprezo face aos «maçaricos» mal armados, que morriam como tordos, e cujas armas obsoletas lhes rebentavam na cara, como passou a constar mais ou menos em surdina?
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Podem oficiais do Quadro Permanente, «profissionalizados» nas «artes» da guerra, puxarem lustro aos galões, mas terá fundamento a opinião dos brancos, pelo menos em Luanda, de que eles limitavam-se a ficar na rectaguarda, a partir de certa altura «cansados» de sucessivas comissões e de andarem com a casa às costas?
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Pode haver quem louve o «democrata» militar profissional de carreira General Spínola, apoiante e observador das tropas nazis durante a invasão da URSS perante o «silêncio» e passividade dos «manos» democratas republicanos protectores de nazis após a fantochada do Tribunal de Nuremberga ou da condenação à morte de Eichmann pelos sionistas do artificial Israel, (que esteve para ser em Madagáscar ou no Sul de Angola), como Churchill (o da cortina de ferro) e F. D. Roosevelt ou Truman (o da Guerra Fria, criminoso de guerra e responsável pela destruição de Hiroshima e Nagasaki), «pai» de McCarthy, ou medíocres actores como Reagan's, mulherengos e viris Kennedy's' ou Clinton's, (com o beneplácito de Jacqueline's «Onassis» ou Hilary's) ou «geniais» Bush, estrénuos defensores dos direitos humanos e de todos os golpes fascistas na América Latina ou no chamado 3º Mundo perpetrados na sombra mais ou menos encoberta da Companhia ou de másculos «travestis» e tarados sexuais.
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Que os distingue face a por eles considerados «criminosos» como Estaline, Fidel Castro, Nelson Mandela (Nobel da Paz que ainda hoje figura na lista dos «terroristas» elaborada pelo Tio Sam), a URSS ou a China «Popular» ou Chavez, enquanto deram apoio a impolutos Salazares, Francos, Pinochets, Bin Laden, Papa Doc's, Fulgêncios, Trujillos, Noriegas, Mobuto, Tschombé, Savimbi, Holden Robertos, Suharto, Marcos, Saddam, Reza Pahlavi ,Faiçal ou Fahd, Ian Smith ou defensores do apartheid e uma infindável lista de democratas defensores dos direitos humanos, transformados alguns em terroristas ou inimigos da humanidade quando tiveram a veleidade de enfrentarem «a Voz do Dono»?
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A série sobre a guerra colonial recentemente transmitida pela RTP e distribuída presentemente pelo tablóide Correio da Manhã - líder de vendas - mas ignorada pela imprensa de referência e «desprezado» pelos «intelectuais» e pelas «classes» alta e média alta, abriram os olhos a «retornados» e «ex-combatentes» provenientes da ralé e compulsivamente incorporados nas Forças Armadas Portuguesas, integradas na superioridade dos «brancos» e da «civilização ocidental cristã (católica)», a tal que se horrorizava perante os «sacrifícios» sangrentos das civilizações pté-colombianas, que exterminou apesar de cientidicamente mais avançadas, tal como os árabes (mouros), chineses e japoneses, enquanto apadrinhava sangrentas guerras religiosas na Europa e torturava Galileu e outros «hereges», quando não os queimava nos autos de fé em tudo idênticos aos sacrifícios dos maias e de cristãos, estes pelo imperialismo romano (o tal da paz dos cemitérios) santificados e mortos nos «Coliseus», subversivos monoteístas então condenados à clandestinidade das Catacumbas.
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Quanto ao inefável estratega e herói do 25 de Abril, de seu nome Otelo Saraiva de Carvalho, não passa dum verborroico, como muitos ultra-revolucionários acérrimos inimigos do «social-fascismo», agora convertidos às delícias do capitalismo e seus serventuários. Eles eram os «Pinta-Paredes», os impolutos ultra-revolucionários maoístas, simples barretes morgadios, de falso tesão, filhos de Sant'Annas de Portas Abertas, conservados em salmoura, ontem estrénuos defensores da demo-cracia ou da Liberdade e do Zé Papa-Açordas ou inimigos do capitalismo de Estado da URSS e defensores da Revolução Cultural do bando dos quatro, hoje renegados de Mao Zdong e acérrimos adversários dos «amarelos» da milenar China e mergulhados na Lama.
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Em 25 de Novembro de 1975 o grande Otelo pôs os seus adeptos na rua e foi para casa dormir, incomunicável, indiferente ao desencadear duma guerra civil. O «comandante» e notável estratega deu luz verde às suas «tropas» e depois zarpou.
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Ultra-revolucionário candidato às eleições Presidenciais contra Ramalho Eanes, o estratega do 25 de Novembro, e contra Octávio Pato, candidato do PCP, o grande Otelo, estratega do 25 de Abril, confessou anos mais tarde, «candidamente», que apesar de candidato votara no «adversário» Ramalho Eanes, porque «a democracia já estava consolidada». Santa ingenuidade daqueles de cujo voto se aproveitou e traíu para permitir a vitória de Ramalho Eanes e limitar a votação no PCP. As autodenominadas Forças Populares do 25 de Abril, lideradas pelo «ingénuo» Otelo, acusadas de bombistas e de crimes de sangue, foram julgadas e condenadas, enquanto as gémeas forças do Exército de Libertação de Portugal ou do Movimento Democrático de Libertação de Portugal lideradas pelo «Marechal» Spínola, Alpoim Calvão, Cónegos Melo e Ferreira Torres nunca foram levados à barra do Tribunal nem por isso precisaram de amnistias, pelo que morreram em cheiro de santidade e sem escândalo. Talvez um dia sejam transladados pera o «Panteão» Nacional, já que não possuem sangue azul que lhes permita repousar em S. Vicente de Fora.
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Com lágrimas de crocodilo choram-se os mortos pela Guerra Civil em Angola, aponta-se o dedo ao MPLA e a Cuba, mas deixam na sombra a UNITA, Savimbi e o exército racista da União Sul Africana. Chora-se a «traição» dos que deixaram os Flechas no terreno e que foram fuzilados, mas não se diz que o mesmo fizeram os EUA aos colaboracionistas no Vietname enquanto os últimos americanos fugiam como ratos embarcando nos helicóperos no telhado do edifício da «sua» embaixada. Choram-se os mortos e as vítimas da «barbárie» após a descolonização portuguesa, mas deixam-se na sombra os milhões de mortos no Iraque, na Indonésia, em Dresden, em Hiroshima e Nagasaki, nas colónias europeias ou no quintal do Tio SAM. Censura-se Iago, mas esquecem que a pacífica Revolução dos Cravos teve poucos mortos e esses foram provocados pela «valerosa» PIDE ou pelos bombistas do ELP/MDLP, a norte de Rio Maior. Enquanto isso, elogia-se a Padeira de Aljubarrota, que assassinou à pazada derrotados, perdidos e assustados castelhanos, ou admira-se a populaça que assassinou os derrotados e fugitivos soldados napoleónicos e aplaude-se o assassinato de Miguel de Vasconcelos, o traidor.

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Quanto à «traição» de Álvaro Cunhal, a «soldo» de Moscovo ou de Mário Soares, também a «soldo» de Moscovo para uns, «agente» da Companhia» para outros, é bom recordar que a cadeia de comando foi quebrada nas colónias pelo pé descalço «miliciano» cansado da guerra e em Portugal por aqueles que então gritavam «Nem um Soldado para as Colónias, Já!» em nome da «Revolução a Todo o Vapor», hoje sentados nas poltronas do Poder que diziam combater, pagos por Roma a troco duma travessa recheada de lentilhas, clari-videntes visionários de argueiros no olho do vizinho mas cegos da trave que lhe tapa o olhar, ou «horrorizados» e assépticos investigadores sociais e/ou «opinion makers» que então se apresentavam como os verdadeiros comunistas ou reorganizadores do partido do proletariado. . É da História que apenas Ramalho Eanes e Álvaro Cunhal se opuseram á aceitação da ocupação de Timor Leste pelas «democrática» Indonésia, com o beneplácito protector do Tio SAM, que exterminou milhares de resistentes timorenses que mal sabiam falar português, tal como os negros em África antes da independência.

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(1) anedotas idênticas às que portugueses contam dos galegos ou dos alentejanos, que brasileiros contam dos portugueses ou de brancos sobre os negros e «mouros».

(2) Adam Hochschild - O Fantasma do Rei Leopoldo

(3) Joseph Conrad - Coração das Trevas (Heart_of_Darkness)

(4) - O Luso-Tropicalismo de Gilberto Freire e Lusofonia e Luso-tropicalismo

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