domingo, novembro 16, 2008

Tempos Modernos / Carlos Drummond de Andrade!


TÍTULO DO FILME: TEMPOS MODERNOS (Modern Times, EUA 1936)
DIREÇÃO: Charles Chaplin
ELENCO: Charles Chaplin, Paulette Goddard, 87 min. preto e branco, Continental



RESUMO

Trata-se do último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome.
A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona. O filme focaliza a vida do na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à "modernidade" e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias "subversivas".
Em sua Segunda parte o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais abastadas, sem representar contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda que a mesma sociedade capitalista que explora o proletariado, alimenta todo conforto e diversão para burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas questões.
Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini por ser considerado "socialista". Aliás, nesse aspecto Chaplin foi boicotado também em seu próprio país na época do "macartismo".
Juntamente com O Garoto e O Grande Ditador, Tempos Modernos está entre os filmes mais conhecidos do ator e diretor Charles Chaplin, sendo considerado um marco na história do cinema.
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181

Canto ao Homem do Povo - Charles Chaplin
Carlos Drummond de Andrade


I


Era preciso que um poeta brasileiro,
não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa,
girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver
como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos,

era preciso que esse pequeno cantor teimoso,
de ritmos elementares, vindo da cidadezinha do interior
onde nem sempre se usa gravatas mas todos são extremamente polidos
e a opressão é detestada, se bem que o heroísmo se banhe em ironia,

era preciso que um antigo rapaz de vinte anos,
preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo,
viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse
para dizer-te algumas coisas, sobcolor de poema.

Para dizer-te como os brasileiros te amam
e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece
com qualquer gente do mundo - inclusive os pequenos judeus
de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos,

vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem
nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia,
e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor
como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.

Bem sei que o discurso, acalanto burguês, não te envaidece,
e costumas dormir enquanto os veementes inauguram estátua,
e entre tantas palavras que como carros percorrem as ruas,
só as mais humildes, de xingamento ou beijo, te penetram.

Não é a saudação dos devotos nem dos partidários que te ofereço,
eles não existem, mas a de homens comuns, numa cidade comum,
nem faço muita questão da matéria de meu canto ora em torno de ti
como um ramo de flores absurdas mando por via postal ao inventor dos jardins.

Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se.

Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração,
os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos, os cismarentos,
os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.

E falam as flores que tanto amas quando pisadas,
falam os tocos de vela, que comes na extrema penúria, falam a mesa, os botões,
os instrumentos do ofício e as mil coisas aparentemente fechadas,
cada troço, cada objeto do sótão, quanto mais obscuros mais falam.

II


A noite banha tua roupa.
Mal a disfarças no colete mosqueado,
no gelado peitilho de baile,
de um impossível baile sem orquídeas.
És condenado ao negro. Tuas calças
confundem-se com a treva. Teus sapatos
inchados, no escuro do beco,
são cogumelos noturnos. A quase cartola,
sol negro, cobre tudo isto, sem raios.
Assim, noturno cidadão de uma república
enlutada, surges a nossos olhos
pessimistas, que te inspecionam e meditam:
Eis o tenebroso, o viúvo, o inconsolado,
o corvo, o nunca-mais, o chegado muito tarde
a um mundo muito velho.
E a lua pousa
em teu rosto. Branco, de morte caiado,
que sepulcros evoca mas que hastes
submarinas e álgidas e espelhos
e lírios que o tirano decepou, e faces
amortalhadas em farinha. O bigode
negro cresce em ti como um aviso
e logo se interrompe. É negro, curto,
espesso. O rosto branco, de lunar matéria,
face cortada em lençol, risco na parede,
caderno de infância, apenas imagem
entretanto os olhos são profundos e a boca vem de longe,
sozinha, experiente, calada vem a boca
sorrir, aurora, para todos.
E já não sentimos a noite,
e a morte nos evita, e diminuímos
como se ao contato de tua bengala mágica voltássemos
ao país secreto onde dormem os meninos.
Já não é o escritório e mil fichas,
nem a garagem, a universidade, o alarme,
é realmente a rua abolida, lojas repletas,
e vamos contigo arrebentar vidraças,
e vamos jogar o guarda no chão,
e na pessoa humana vamos redescobrir
aquele lugar - cuidado! - que atrai os pontapés: sentenças
de uma justiça não oficial.

III
(...)
IV
(...)
V


Uma cega te ama. Os olhos abrem-se.
Não, não te ama. Um rico, em álcool,
é teu amigo e lúcido repele
tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos
o que há de água, de sopro e de inocência
no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que cultuamos, falsos: flores pardas,
anjos desleais, cofres redondos, arquejos
poéticos acadêmicos; convenções
do branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e fábricas
e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado.

Colo teus pedaços. Unidade
estranha é a tua, em mundo assim pulverizado.
E nós, que a cada passo nos cobrimos
e nos despimos e nos mascaramos,
mal retemos em ti o mesmo homem,
aprendiz
bombeiro
caixeiro
doceiro
emigrante
forçado
maquinista
noivo
patinador
soldado
músico
peregrino
artista de circo
marquês
marinheiro
carregador de piano
apenas sempre entretanto tu mesmo,
o que não está de acordo e é meigo,
o incapaz de propriedade, o pé
errante, a estrada
fugindo, o amigo
que desejaríamos reter
na chuva, no espelho, na memória
e todavia perdemos

VI


Já não penso em ti. Penso no ofício
a que te entregas. Estranho relojoeiro
cheiras a peça desmontada: as molas unem-se,
o tempo anda. És vidraceiro.
Varres a rua. Não importa
que o desejo de partir te roa; e a esquina
faça de ti outro homem; e a lógica
te afaste de seus frios privilégios.

Há o trabalho em ti, mas caprichoso,
mas benigno,
e dele surgem artes não burguesas,
produtos de ar e lágrimas, indumentos
que nos dão asa ou pétalas, e trens
e navios sem aço, onde os amigos
fazendo roda viajam pelo tempo,
livros se animam, quadros se conversam,
e tudo libertado se resolve
numa efusão de amor sem paga, e riso, e sol.

O ofício é o ofício
que assim te põe no meio de nós todos,
vagabundo entre dois horários; mão sabida
no bater, no cortar, no fiar, no rebocar,
o pé insiste em levar-te pelo mundo,
a mão pega a ferramenta: é uma navalha,
e ao compasso de Brahms fazes a barba
neste salão desmemoriado no centro do mundo oprimido
onde ao fim de tanto silêncio e oco te recobramos.

Foi bom que te calasses.
Meditavas na sombra das chaves,
das correntes, das roupas riscadas, das cercas de arame,
juntavas palavras duras, pedras, cimento, bombas, invectivas,
anotavas com lápis secreto a morte de mil, a boca sangrenta
de mil, os braços cruzados de mil.

E nada dizias. E um bolo, um engulho
formando-se. E as palavras subindo.
Ó palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo.
Poder da voz humana inventando novos vocábulos e dando sopros exaustos.
Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo,
crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores,
ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode
caminham numa estrada de pó e de esperança.

http://www.culturabrasil.pro.br/chaplinhomemdopovo.htm

__________________

sábado, novembro 15, 2008

Um interessante artigo da minha colega Filomena Embaló


Friday, November 14, 2008
A «ILEGITIMIDADE» DA IDENTIDADE NACIONAL


Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

08.11.2008

A eleição de Barack Obama à magistratura suprema dos Estados Unidos da América constitui um acontecimento sem precedentes na história deste país. O sonho de Martin Luther King começa finalmente a tornar-se realidade: o sonho de negros e brancos estadunidenses viverem harmoniosamente e serem iguais.
Barack Obama, filho de um imigrante queniano e de uma norte-americana branca, mestiço ou "bi-racial" como se diz localmente, "afro-americano", "negro", foi escolhido pelos eleitores do seu país para, durante os próximos quatro anos, dirigir os destinos da Nação e representá-la no mundo inteiro. Foi uma vitória pessoal, mas também a de toda a comunidade "afro-americana" que durante mais de dois séculos vem lutando pela igualdade de direitos e contra a discriminação.
O continente africano jubilou também com este plebiscito, pois um "filho de África" estará ao leme da primeira potência mundial, glorificando assim o continente e os povos africanos. Com ele espera-se um outro olhar e uma nova sensibilidade da Casa Branca em relação à África.
Apesar da sua origem africana, Obama é acima de tudo um cidadão dos Estados Unidos, Foi lá que ele nasceu e viveu. A sua nacionalidade é a norte-americana. A sua cultura é a cultura norte-americana, com a qual se identifica. Ele partilha com todos os estadunidenses os mesmos valores, a mesma identidade nacional, o mesmo "sentir norte-americano", a mesma língua, o mesmo solo, a mesma História e a mesma bandeira. E tudo isso faz dele um cidadão de pleno direito que hoje o elevou à mais alta magistratura da Nação.
E, como disse, a África está orgulhosa deste "filho" e muitas foram as individualidades africanas que nas antenas das rádios internacionais disseram que os Estados Unidos mostraram que ainda podem dar lições ao mundo e em particular à "velha" Europa. E eu acrescentaria: e sobretudo à Mãe África, estripada pela violência da intolerância!
Pois, pergunto-me, se Obama tivesse nascido num país africano, de mãe originária desse país e de pai imigrante (ou vice-versa), em quantos países ele seria elegível à presidência da República? A lista não deve ser muito longa...
Na Guiné-Bissau, infelizmente, ele não teria esse privilégio, uma vez que o Artigo 63°-2 da Constituição diz serem "elegíveis para o cargo de Presidente da República os cidadãos eleitores guineenses de origem, filhos de pais guineenses de origem, maiores de 35 anos de idade, no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos", com a ambiguidade de não se saber o que se entende por "guineense de origem", ou a partir de que geração se é considerado ser "guineense de origem"... O maior paradoxo disto é o facto destes critérios excluírem o próprio Fundador da nacionalidade guineense, Amilcar Cabral.
Quantos "obamas "guineenses existem na Guiné-Bissau? Quantos guineenses nascidos de um genitor guineense e de outro estrangeiro que viveram sempre na Guiné-Bissau, sem nunca ter tido outra nacionalidade que não a guineense e sem qualquer contacto com o país de origem do genitor estrangeiro, estão interditados de se candidatarem às eleições presidenciais?
Serão eles menos guineenses do que os que têm ambos os pais de "origem guineense"? Não partilham eles com os seus compatriotas os mesmos valores, a mesma identidade nacional, o mesmo "sentir guineense", a mesma língua nacional, o mesmo solo, a mesma História e a mesma bandeira, tal como Obama com os seus compatriotas? Será a identidade nacional guineense uma noção vazia que não dá qualquer legitimidade ao cidadão?
Por quê esta discriminação, quando o Artigo 24° da Constituição da República diz que "Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção de raça, sexo, nível social, intelectual ou cultural, crença religiosa ou convicção filosófica"? As disposições do Artigo 36°-2 não serão uma discriminação racial? Não estaremos perante uma contradição entre as disposições destes dois artigos da Lei Fundamental?
A Guiné-Bissau, como país colonizado que foi e como terra de acolhimento que tem sido, terá que aprender a assumir a integralidade da sua história, bem como a população que hoje tem, fruto dessa história.
Esperamos que a eleição do Presidente Obama, para além de trazer as tão esperadas estabilidade e paz no mundo, constitua, em particular para o continente africano, um exemplo de tolerância, em que cidadãos com as mais diversas origens escolheram um presidente não pela cor da sua pele ou pelas suas origens, mas pelas ideias e valores que defende.
E se nós, africanos, também tivéssemos um sonho?... Não é o sonho que comanda a vida? Tudo depende do nosso querer, pois, querendo, we can!
Publicado em: Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

Gustavo Costa /"O PRIMEIRO MINISTRO E A FRAUDE EMPRESARIAL PÚBLICA.


Não resisto a transcrever aqui um texto publicado no NOVO JORNAL de hoje, assinado pelo seu Director-Adjunto, GUSTAVO COSTA, e subordinado ao título "O PRIMEIRO MINISTRO E A FRAUDE EMPRESARIAL PÚBLICA.

Quando, aqui há umas semanas, questioneia «obesidade governamental», inquietavam-
me também algumas «traquinices» daqueles que se auto-intitulando de
gestores» de empresas públicas estão a tiraro sono tanto a economistas sérios, como
a contribuintes igualmente sérios.
Depois de ter anunciado o saneamento das empresas públicas, o que o Primeiro-Ministro,Paulo Kassoma, terá agora de enfrentar, nãosão apenas essas «traquinices», mas a difícilcaminhada que será necessário empreender para as sanear, de alto a baixo, devolver-lhessaúde financeira, insuflar-lhes capacidade degestão, prepará-las para a concorrência, num mercado cada vez mais «feroz», e restituir-lhesdignidade moral e empresarial.
O Primeiro-Ministro terá também que promovera descentralização empresarial para
criar pólos de desenvolvimento fora de Luanda e da restante orla marítima. Trata-se deuma «cesariana» que pode vir a traumatizar os progenitores de «crianças», que tendo sido momentaneamente «dopadas», encarnarama força de «elefantes brancos» que, afinal,têm pés de barro e cabeça de tolos. E, de quem é, em parte, a esponsabilidade por essedesvario?
Desde logo, do Estado por se ter imposto nopassado, de forma paternalista e demagógica,como o principal «guarda-chuva» de admissõese promoções populistas. Logo, esse mesmo Estado vai ter de assumir agora o despedimento de mão-de-obra excedentária e,na maior parte dos casos, desqualificada, que custa aos seus cofres todos os meses milhões de dólares.
Esse é um desafio inadiável e esperemos que não adormeça à cesta na retórica. Mais do
que recomendável, é imperativo que a «purga» se estenda, sem excepção, a todas as empresas públicas e não apenas à TAAG. Essa é,de resto, uma condição essencial para dar o pontapé de saída à moralização de um dos pilares da nossa economia: as empresas.
Mas, sanear o pessoal excedentário dalguns desses «monstros» não é o único desafio quese coloca aos novos governantes, que agora astêm sob a sua tutela. Mais do que isso, será necessário introduzir uma nova e moderna culturade gestão empresarial. Porquê? Porque há gente, há mais de vinte anos, à frente de empresasque não sabe sequer lavrar um ofício.
Há «gestores-economistas» que argumentamque a «raíz quadrada» nem sempre dácerto! Há ainda empresas que têm, proporcionalmente,tantos trabalhadores quantos «chefes». Há gente, nestas circunstâncias,que não prestando contas ao Estado,também não sabe como fazê-lo, porque nem sequer sabe calcular a taxa de juros de empréstimoscontraídos pelas empresas que é suposto gerirem. Custa acreditar, mas a verdade é que «gestores» deste descalabro,sentem-se confortavelmente acomodados…Essa «fraude» nem sequer precisa de ser descodificada.
Os poros dos seus autores, desprovidos,na maior parte dos casos, da maiselementar noção de gestão, destilam má relaçãocom o dinheiro, «ódio» pelas normas administrativas, esbanjamento de recursos e uma crónica incapacidade governativa. As
empresas adormeceram à espera de decisõespolíticas, que nunca chegaram ao destino.
Vítimas de abusos de poder, a única coisacerta nelas é que, afinal, tudo ou quase tudo,estava errado! Resultado: mal educadase, pior, habituadas ao proteccionismo do Estado,a deriva na maior parte delas é total!
Quem a provocou, como «gestor» público,não pode agora ser desculpado, mesmo porque,
depois de ter endossado «cheques em branco» aos contribuintes, as desculpas não
se pedem, antes evitam-se!
Agora, só há um caminho a seguir: que Deus nos livre rapidamente desses pseudo-gestores!
Eles que sejam substituídos por gentecompetente, gente que saiba perseguir a
competitividade, a dignificação profissionale o lucro como o «soro» que há-de alimentaras veias da economia de Angola, fora da orlado petróleo e dos diamantes.
O Estado tem de os substituir porque nessas empresas tiveram a «gentileza» de fazer
da capitulação profissional e do vazio ético,dois dos símbolos da decadência do seu «modelo» de gestão.
O que estas engravatadas criaturas demonstram saber fazer bem é ostentar fatos Armani,BMW X6, relógio «Rolex», cabelo cheio degel e forjar «viagens em serviço» ao exterior do país com fins turísticos…
Alguns deles, de mediocridade pavorosa, como diria Baptista Bastos, um dos maiores
cronistas portugueses, não dão conta sequer de que, mais do que sofríveis, são doentiamente insignificantes! Não estão preocupados com a gestão empresarial mas apenas obcecados com o poder empresarial. Pensam que só sabem mandar. Acontece que, desgraçadamente,não sabem fazer nem uma coisa, nem outra!Não sabem mandar e, pior do que isso, muito menos pensar. E o que o país mais precisa,neste momento, é de gente que saiba pensar e gerir. Gente que saiba formular uma nova ideia de administração empresarial pública,com o concurso de jovens tecnocratas, ávidos por libertar novas competências e modernas técnicas de gestão ou mesmo com recurso a gestores expatriados.
Gente que saiba levar as empresas públicas a ganhar músculo e a perder gordura. Porque o que a experiência comprova hoje, é que, na maior parte delas – e a crítica aqui não deve ser confundida como uma defesa da sua privatização - já só resta a poeira de um império esquelético.
Agora há que projectar «fénix» para sanear primeiro e depois delinear uma nova filosofia de gestão para o sector empresarial público em Angola. Mas, sanear para quê?
Sanear para levantar o tapete, destapar aporcaria nele incrustada e sepultar «mitos».
Sanear para quê? Sanear para pôr ordem namaioria das empresas públicas, que estão
transformadas em autênticas agências «funerárias» de emprego.
Sanear para quê? Sanear para enterrar «cadáveres» que exalam um cheiro pestilento
sobre um modelo de gestão miserável.
Sanear para quê? Sanear para «sepultar»também clientelas que se alimentam do tráfico
de influência e da corrupção.
Sanear para quê? Sanear para não sermos contaminados pelo vírus de pseudo-gestores
que só sabem exibir incompetência, promover o nepotismo e, pasme-se!, auto-elogiar,
em praça pública, a sua irresponsabilidade empresarial, expondo, sem quaisquer pudores,em museus de maus costumes, a arte do…desperdício, do roubo e da imoralidade…presarial pública…

terça-feira, novembro 11, 2008

Um texto do Manuel Rui que "gamei" por aí...


OBAMA E UM ACTO DE CULTURA UNIVERSAL


Manuel Rui Monteiro


poeta angolano

Eu sempre me confundi na realidade com a utopia. Ou na insatisfação constante como forma quase de fingir felicidade na busca, na procura e imitação de coisas muito simples como o voar dos pássaros, o declinar do sol, o brilho das estrelas e o mistério das conchas que aconteciam com os meus pés à beira mar na areia. Sempre não me conseguindo encontrar com o paraíso do infinitamente bom e infinitamente belo para todos, quase desinfinitando a morte que é o único lugar infinito mas parte da vida, o infinitamente belo que até poderia ser um contraste com o infinitamente bom que sempre para mim ficaram sem ser, iguais à inexistência ou à infelicidade de não procurar mais nada, muito antes da nostalgia ou depois da saudade da morte.
Afinal viver é também não imaginar aquilo que pode acontecer enquanto estamos vivos. Só que eu nunca pensei que em vida, para além de tanta coisa que estava, ainda que muito longe, mas no horizonte por detrás da noite e da nuvem, pudesse ainda ter vivido sonhos, porque a minha geração viveu sonhos depois de os ter sonhado no passa-palavra de muitos silêncios. E também viveu a morte de muita alegria triste.
Mas agora era demais. Numa data e hora em que um grande amigo meu fazia anos. Quatro de Novembro. Eu a telefonar-lhe e ele quase ou mesmo esquecido do seu aniversário por causa de OBAMA.
Era algo que nos tocava e falámos ao telefone. Porque era uma coisa que estava impensada no nosso tempo. A utopia tinha ultrapassado a nossa imaginação. Já não era tanto uma eleição ou uma vitória. Fazia semanas que vivíamos a novidade. Principalmente porque OBAMA falara mais ou menos que se mudarmos a sala podemos mudar a casa; e se mudarmos a casa podemos mudar a rua; e se mudarmos a rua podemos mudar a cidade; e se mudarmos a cidade podemos mudar o estado; e se mudarmos o estado podemos mudar o País; e se mudarmos o País podemos mudar o mundo. OBAMA, em gesto de sagrado, no discurso de Filadélfia, tirou o pé do tiro do reverendo Jeremiah Wright. Embora o reverendo tivesse razão mas era uma razão da memória e da injustiça. Uma razão sobre os que haviam sido negados como pessoas, deixando suor e sangue nas plantações de tabaco e açúcar. Uma razão que podia ser entendida como rancor.
Nesse discurso, OBAMA trouxe uma utopia ligando a jovem Ashley e um mais velho que estava ali por Ashley estar.
No dia e hora em que escrevo este texto ainda não sei se OBAMA ganhou. Mas não é tanto por isso que estou a escrever. É mais por causa do outro que nunca percebeu que eu existo e ele só pode ser também se deixar de estar assim para podermos ser todos.
OBAMA tem um significado do maior acto de cultura universal do início deste século. No século passado, quem tinha televisão ficou uma noite inteira à espera que um homem pisasse a lua.
Neste princípio de século, OBAMA conseguiu criar uma energia, um astral de muitas mãos inteiras pelo pensamento de pessoas de todas as partes do mundo, numa corrente parecida com uma constelação de paz sem fronteiras. E Isso é um acto de cultura que vai ficar.
Não importa que este Messias traga milagres. Importa é o milagre cultural de pôr uma boa parte do mundo inteiro a olhar para ele como um salvador e perder uma noite só a olhar para um televisor como se OBAMA fosse uma madrugada.
No século passado, foram à lua. Agora OBAMA parece que desceu da lua e chegou à terra.
No século passado foi Mandela.
Mas antes de Mandela, o reverendo Luter King já tinha orado que tinha um sonho. O reverendo foi assassinado por causa do sonho.
Mandela tornou realidade um bocado do sonho do reverendo. Por cima de tanta memória que sobrou para os blues.
OBAMA acrescenta mais um bocado de realidade ao sonho do reverendo.
Como Agostinho Neto deixou escrito:
E DO DRAMA INTENSO


DUMA VIDA IMENSA E ÚTIL


RESULTOU CERTEZA
AS MINHAS MÃOS COLOCARAM PEDRAS


NOS ALICERCES DO MUNDO


MEREÇO O MEU PEDAÇO DE PÃO.
manuel rui

sábado, novembro 08, 2008

Martin Luther King



"Hoje, na noite do mundo e na esperança da Boa Nova, eu afirmo com audácia minha fé no futuro da humanidade. Recuso crer que as circunstâncias actuais tornem os homens incapazes de fazer uma terra melhor. Recuso crer que o ser humano não seja mais do que um boneco de palha agitado pela corrente da vida, sem ter a possibilidade de influir minimamente no curso dos acontecimentos. Recuso-me a partilhar a opinião dos que pretendem que o homem está de tal maneira prisioneiro da noite sem estrelas, da guerra e do racismo, que a aurora luminosa da paz e da fraternidade não possa nunca tornar-se realidade. Recuso fazer minha a predição cínica daqueles que dizem que os povos mergulharão, um após outro, no turbilhão do militarismo, até o inferno da destruição termonuclear. Eu creio que a verdade e o amor incondicionais terão efectivamente a última palavra. A vida, ainda que provisoriamente derrotada, é sempre mais forte que a morte. Eu creio firmemente que, mesmo no meio das bombas que explodem e dos canhões que troam, permanece a esperança de um amanhã radioso. Ouso crer que, um dia, todos os habitantes da terra poderão receber três refeições por dia para a vida de seu corpo, a educação e a cultura para a saúde de seu espírito, a igualdade e a liberdade para a vida de seus corações. Creio, igualmente, que um dia toda a humanidade reconhecerá em Deus a fonte do seu amor. Creio que a bondade salvadora e pacífica um dia será lei. O lobo e o cordeiro poderão repousar juntos, todo homem poderá sentar-se sob a sua figueira, na sua vinha e ninguém terá motivo para ter medo. Creio firmemente que triunfaremos." (Martin Luther King)