sábado, novembro 15, 2008

Um interessante artigo da minha colega Filomena Embaló


Friday, November 14, 2008
A «ILEGITIMIDADE» DA IDENTIDADE NACIONAL


Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

08.11.2008

A eleição de Barack Obama à magistratura suprema dos Estados Unidos da América constitui um acontecimento sem precedentes na história deste país. O sonho de Martin Luther King começa finalmente a tornar-se realidade: o sonho de negros e brancos estadunidenses viverem harmoniosamente e serem iguais.
Barack Obama, filho de um imigrante queniano e de uma norte-americana branca, mestiço ou "bi-racial" como se diz localmente, "afro-americano", "negro", foi escolhido pelos eleitores do seu país para, durante os próximos quatro anos, dirigir os destinos da Nação e representá-la no mundo inteiro. Foi uma vitória pessoal, mas também a de toda a comunidade "afro-americana" que durante mais de dois séculos vem lutando pela igualdade de direitos e contra a discriminação.
O continente africano jubilou também com este plebiscito, pois um "filho de África" estará ao leme da primeira potência mundial, glorificando assim o continente e os povos africanos. Com ele espera-se um outro olhar e uma nova sensibilidade da Casa Branca em relação à África.
Apesar da sua origem africana, Obama é acima de tudo um cidadão dos Estados Unidos, Foi lá que ele nasceu e viveu. A sua nacionalidade é a norte-americana. A sua cultura é a cultura norte-americana, com a qual se identifica. Ele partilha com todos os estadunidenses os mesmos valores, a mesma identidade nacional, o mesmo "sentir norte-americano", a mesma língua, o mesmo solo, a mesma História e a mesma bandeira. E tudo isso faz dele um cidadão de pleno direito que hoje o elevou à mais alta magistratura da Nação.
E, como disse, a África está orgulhosa deste "filho" e muitas foram as individualidades africanas que nas antenas das rádios internacionais disseram que os Estados Unidos mostraram que ainda podem dar lições ao mundo e em particular à "velha" Europa. E eu acrescentaria: e sobretudo à Mãe África, estripada pela violência da intolerância!
Pois, pergunto-me, se Obama tivesse nascido num país africano, de mãe originária desse país e de pai imigrante (ou vice-versa), em quantos países ele seria elegível à presidência da República? A lista não deve ser muito longa...
Na Guiné-Bissau, infelizmente, ele não teria esse privilégio, uma vez que o Artigo 63°-2 da Constituição diz serem "elegíveis para o cargo de Presidente da República os cidadãos eleitores guineenses de origem, filhos de pais guineenses de origem, maiores de 35 anos de idade, no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos", com a ambiguidade de não se saber o que se entende por "guineense de origem", ou a partir de que geração se é considerado ser "guineense de origem"... O maior paradoxo disto é o facto destes critérios excluírem o próprio Fundador da nacionalidade guineense, Amilcar Cabral.
Quantos "obamas "guineenses existem na Guiné-Bissau? Quantos guineenses nascidos de um genitor guineense e de outro estrangeiro que viveram sempre na Guiné-Bissau, sem nunca ter tido outra nacionalidade que não a guineense e sem qualquer contacto com o país de origem do genitor estrangeiro, estão interditados de se candidatarem às eleições presidenciais?
Serão eles menos guineenses do que os que têm ambos os pais de "origem guineense"? Não partilham eles com os seus compatriotas os mesmos valores, a mesma identidade nacional, o mesmo "sentir guineense", a mesma língua nacional, o mesmo solo, a mesma História e a mesma bandeira, tal como Obama com os seus compatriotas? Será a identidade nacional guineense uma noção vazia que não dá qualquer legitimidade ao cidadão?
Por quê esta discriminação, quando o Artigo 24° da Constituição da República diz que "Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres, sem distinção de raça, sexo, nível social, intelectual ou cultural, crença religiosa ou convicção filosófica"? As disposições do Artigo 36°-2 não serão uma discriminação racial? Não estaremos perante uma contradição entre as disposições destes dois artigos da Lei Fundamental?
A Guiné-Bissau, como país colonizado que foi e como terra de acolhimento que tem sido, terá que aprender a assumir a integralidade da sua história, bem como a população que hoje tem, fruto dessa história.
Esperamos que a eleição do Presidente Obama, para além de trazer as tão esperadas estabilidade e paz no mundo, constitua, em particular para o continente africano, um exemplo de tolerância, em que cidadãos com as mais diversas origens escolheram um presidente não pela cor da sua pele ou pelas suas origens, mas pelas ideias e valores que defende.
E se nós, africanos, também tivéssemos um sonho?... Não é o sonho que comanda a vida? Tudo depende do nosso querer, pois, querendo, we can!
Publicado em: Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

Gustavo Costa /"O PRIMEIRO MINISTRO E A FRAUDE EMPRESARIAL PÚBLICA.


Não resisto a transcrever aqui um texto publicado no NOVO JORNAL de hoje, assinado pelo seu Director-Adjunto, GUSTAVO COSTA, e subordinado ao título "O PRIMEIRO MINISTRO E A FRAUDE EMPRESARIAL PÚBLICA.

Quando, aqui há umas semanas, questioneia «obesidade governamental», inquietavam-
me também algumas «traquinices» daqueles que se auto-intitulando de
gestores» de empresas públicas estão a tiraro sono tanto a economistas sérios, como
a contribuintes igualmente sérios.
Depois de ter anunciado o saneamento das empresas públicas, o que o Primeiro-Ministro,Paulo Kassoma, terá agora de enfrentar, nãosão apenas essas «traquinices», mas a difícilcaminhada que será necessário empreender para as sanear, de alto a baixo, devolver-lhessaúde financeira, insuflar-lhes capacidade degestão, prepará-las para a concorrência, num mercado cada vez mais «feroz», e restituir-lhesdignidade moral e empresarial.
O Primeiro-Ministro terá também que promovera descentralização empresarial para
criar pólos de desenvolvimento fora de Luanda e da restante orla marítima. Trata-se deuma «cesariana» que pode vir a traumatizar os progenitores de «crianças», que tendo sido momentaneamente «dopadas», encarnarama força de «elefantes brancos» que, afinal,têm pés de barro e cabeça de tolos. E, de quem é, em parte, a esponsabilidade por essedesvario?
Desde logo, do Estado por se ter imposto nopassado, de forma paternalista e demagógica,como o principal «guarda-chuva» de admissõese promoções populistas. Logo, esse mesmo Estado vai ter de assumir agora o despedimento de mão-de-obra excedentária e,na maior parte dos casos, desqualificada, que custa aos seus cofres todos os meses milhões de dólares.
Esse é um desafio inadiável e esperemos que não adormeça à cesta na retórica. Mais do
que recomendável, é imperativo que a «purga» se estenda, sem excepção, a todas as empresas públicas e não apenas à TAAG. Essa é,de resto, uma condição essencial para dar o pontapé de saída à moralização de um dos pilares da nossa economia: as empresas.
Mas, sanear o pessoal excedentário dalguns desses «monstros» não é o único desafio quese coloca aos novos governantes, que agora astêm sob a sua tutela. Mais do que isso, será necessário introduzir uma nova e moderna culturade gestão empresarial. Porquê? Porque há gente, há mais de vinte anos, à frente de empresasque não sabe sequer lavrar um ofício.
Há «gestores-economistas» que argumentamque a «raíz quadrada» nem sempre dácerto! Há ainda empresas que têm, proporcionalmente,tantos trabalhadores quantos «chefes». Há gente, nestas circunstâncias,que não prestando contas ao Estado,também não sabe como fazê-lo, porque nem sequer sabe calcular a taxa de juros de empréstimoscontraídos pelas empresas que é suposto gerirem. Custa acreditar, mas a verdade é que «gestores» deste descalabro,sentem-se confortavelmente acomodados…Essa «fraude» nem sequer precisa de ser descodificada.
Os poros dos seus autores, desprovidos,na maior parte dos casos, da maiselementar noção de gestão, destilam má relaçãocom o dinheiro, «ódio» pelas normas administrativas, esbanjamento de recursos e uma crónica incapacidade governativa. As
empresas adormeceram à espera de decisõespolíticas, que nunca chegaram ao destino.
Vítimas de abusos de poder, a única coisacerta nelas é que, afinal, tudo ou quase tudo,estava errado! Resultado: mal educadase, pior, habituadas ao proteccionismo do Estado,a deriva na maior parte delas é total!
Quem a provocou, como «gestor» público,não pode agora ser desculpado, mesmo porque,
depois de ter endossado «cheques em branco» aos contribuintes, as desculpas não
se pedem, antes evitam-se!
Agora, só há um caminho a seguir: que Deus nos livre rapidamente desses pseudo-gestores!
Eles que sejam substituídos por gentecompetente, gente que saiba perseguir a
competitividade, a dignificação profissionale o lucro como o «soro» que há-de alimentaras veias da economia de Angola, fora da orlado petróleo e dos diamantes.
O Estado tem de os substituir porque nessas empresas tiveram a «gentileza» de fazer
da capitulação profissional e do vazio ético,dois dos símbolos da decadência do seu «modelo» de gestão.
O que estas engravatadas criaturas demonstram saber fazer bem é ostentar fatos Armani,BMW X6, relógio «Rolex», cabelo cheio degel e forjar «viagens em serviço» ao exterior do país com fins turísticos…
Alguns deles, de mediocridade pavorosa, como diria Baptista Bastos, um dos maiores
cronistas portugueses, não dão conta sequer de que, mais do que sofríveis, são doentiamente insignificantes! Não estão preocupados com a gestão empresarial mas apenas obcecados com o poder empresarial. Pensam que só sabem mandar. Acontece que, desgraçadamente,não sabem fazer nem uma coisa, nem outra!Não sabem mandar e, pior do que isso, muito menos pensar. E o que o país mais precisa,neste momento, é de gente que saiba pensar e gerir. Gente que saiba formular uma nova ideia de administração empresarial pública,com o concurso de jovens tecnocratas, ávidos por libertar novas competências e modernas técnicas de gestão ou mesmo com recurso a gestores expatriados.
Gente que saiba levar as empresas públicas a ganhar músculo e a perder gordura. Porque o que a experiência comprova hoje, é que, na maior parte delas – e a crítica aqui não deve ser confundida como uma defesa da sua privatização - já só resta a poeira de um império esquelético.
Agora há que projectar «fénix» para sanear primeiro e depois delinear uma nova filosofia de gestão para o sector empresarial público em Angola. Mas, sanear para quê?
Sanear para levantar o tapete, destapar aporcaria nele incrustada e sepultar «mitos».
Sanear para quê? Sanear para pôr ordem namaioria das empresas públicas, que estão
transformadas em autênticas agências «funerárias» de emprego.
Sanear para quê? Sanear para enterrar «cadáveres» que exalam um cheiro pestilento
sobre um modelo de gestão miserável.
Sanear para quê? Sanear para «sepultar»também clientelas que se alimentam do tráfico
de influência e da corrupção.
Sanear para quê? Sanear para não sermos contaminados pelo vírus de pseudo-gestores
que só sabem exibir incompetência, promover o nepotismo e, pasme-se!, auto-elogiar,
em praça pública, a sua irresponsabilidade empresarial, expondo, sem quaisquer pudores,em museus de maus costumes, a arte do…desperdício, do roubo e da imoralidade…presarial pública…