quarta-feira, março 25, 2009

O Sr. Duarte Pio e o opúsculo!



Este Duarte Nuno, o Nunes como é conhecido fez a tropa colonial eventualmente em Angola, e também eventualmente no Negage!Um rei à medida do colonial-fascismo!

Li no excelente blogue De Rerum Natura, num post de Carlos Fiolhais, o seguinte:

«De facto, o candidato a rei é autor de um opúsculo laudatório do Beato Nuno, onde se pode ler esta pérola: “Quando passava de Tomar a caminho de Aljubarrota, a 13 de Agosto de 1385, D. Nuno foi atraído a Cova da Iria, onde, na companhia dos seus cavaleiros, viu os cavalos do exército ajoelhar, no mesmo local onde, 532 anos mais tarde, durante as conhecidas Aparições Marianas, Deus operou o Milagre do Sol» (“D. Nuno de Santa Maria - O Santo”, ACD Editores, 2005).»
Fiquei maravilhado com o que li e, sobretudo, por saber que o Sr. Duarte Pio escreve.

O Sr. Duarte Pio, suíço alemão, da família Bourbon, imigrante nacionalizado português pela conivência de Salazar e pelo cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, podia emprestar a imagem às revistas do coração mas precaver-se contra a ideia de publicar opúsculos.

Claro que não é necessário saber falar para escrever e, muito menos, saber escrever para publicar um opúsculo, mas a gramática, o tino e o decoro deviam criar numerus clausus.

É verdade que famosos especialistas são frequentemente alheios ao mister que os celebriza. É o caso do Conde de Abranhos como ministro da Marinha ou de Bagão Félix nas Finanças. E Portugal é um país que resiste a tudo. Resistiu à dinastia de Bragança, ao salazarismo e a Santana Lopes.

O Sr. Duarte Pio há-de ter pensado, em seu pensamento, num esforço heróico, que um livro vinha a calhar para lhe dar o toque de erudição depois das saídas rústicas que lhe mereceu José Saramago a cuja leitura o pouparam a rudimentar cultura e ausência de sensibilidade.

Se o Bush e a Alexandra Solnado são capazes de falar com Deus, e da Alexandra não há razão para duvidar, por que motivo o Sr. Duarte não há-de ser capaz de escrever um livro ou, pelo menos, um opúsculo, ainda que com a ajuda de alguns vassalos?

Há quem, através do estudo e do trabalho, de altas classificações numa boa universidade e de grande tenacidade consiga um emprego ao balcão de uma loja de pronto a vestir mas não será fácil chegar a Grão Mestre da Ordem de N. Sra. da Conceição de Vila Viçosa, da Real Ordem de São Miguel da Ala, Juiz da Real Irmandade de São Miguel da Ala, Bailio Grã-Cruz da Ordem Soberana de Malta, membro do Concelho Científico da Fundação Príncipes de Arenberg e outras distinções guardadas para os descendentes de rainhas de Portugal.

Felizmente vivemos em República. Somos cidadãos e não súbditos. Quando nos cansamos dos titulares dos órgãos de soberania, votamos noutros. E ninguém, com juízo, votaria em quem acredita que Nuno Álvares curou o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo de fritar peixe.

Diário "Provincia de Angola" 30-3-1961


Para os muitos que continuam a dizer que os portugueses não eram racistas só peço que ampliem o jornal e vão lendo o que então se escreveu.
Fernando Pereira