quinta-feira, julho 05, 2012

terça-feira, julho 03, 2012

Mutamba/ Luanda 1985

Fotos de Luanda em 1985

ARTIGO DO MARIO DE CARVALHO PUBLICADO NO MONDE DIPLOMATIQUE MARÇO 2012

Um sublime texto MÁRIO DE CARVALHO A SEMÂNTICA DAS ATITUDES (In Monde Diplomatique –Março - 2012) Parece-me assistir a um grande festim antropófago, com algazarras, batuques e guizalhadas. O poder patronal instalou-se, organiza a pilhagem, abate as resistências. Solta as ameaças, açula os medos. Esteve anos no cerco, à espera da ocasião. Chegou o total desenfreio. A crise rompeu a ...brecha em defesas já erodidas e abaladas. Organiza-se o saque dos rendidos. A direita venceu no terreno após ter avassalado os discursos. Ainda imita alguns rituais e maneiras. O futuro chanceler traz, por ora, chapéu alto e rabona. O objectivo final já esteve mais longe. Assoma no horizonte. Fechar o parêntesis aberto em 1974. Tudo pelo patrão, nada contra o patrão. Como há duzentos anos, nega-se a diferença entre esquerda e direita. Passei toda a vida a ouvir notícias desta indistinção. Ouvi-as na escola primária quando, aos sábados um capitão nos ia edificar, a nós, miúdos. Ouvi-as no liceu, bradadas em vários cambiantes entre saudações nazis, manuais facciosos e aulas de religião ao gosto de quem mandava. Ouvi-as na faculdade e li-as em sebentas eruditas e túrgidas. Ouvi-as talvez aos pides que peroravam nas longas madrugadas da tortura do sono. Voltei a ouvi-las depois de o país ter sido entregue ao concurso de filhos-família, patos-bravos e videirinhos que já trazia a reserva mental de dar cabo da revolução logo que possível. O terreno foi batido milímetro a milímetro por uma propaganda que cobriu todos os alcances. Desde o programinha de televisão fútil e alegrete ao comentário apessoado e arteiro. Desde o concurso integralmente copiado ao documentário abençoado por remotos serviços secretos. Desde a divulgação de frioleiras endinheiradas à selecção das vozes que opinam de alto. Desde a ablação da Ciência, da Literatura e da Arte, à promoção do obscurantismo e da irracionalidade. O iluminismo inventou a Crítica? Desacredite-se o Iluminismo. Pensar é chato. Fale alguém com desassombro e é sempre acusado de «demagogia». Procure-se distinguir o Bem do Mal, salta logo a acusação de «maniqueísmo». Operem-se distinções, reservas, hierarquizações, e acode o «mesmismo», boçal e espesso, a nivelar as dunas. Interesse público? Todos querem o interesse público. O bem geral? Todos querem o bem geral. Generosidade? Tão distribuidinha como o bom senso cartesiano. Desinteresse? Há lá alguém mais benemérito que um banqueiro? Mais pundonoroso que um C.E.O? Mais honrado que um especulador? A opinião imposta é previsível, vocábulo a vocábulo. Nem por isso menos eficaz. Desvaloriza e desmonta tudo o que seja diferente, generoso, elevado, desinteressado ou, até heróico. Mas a defesa contra o sectarismo semântico implica um mínimo de espírito crítico. Supõe familiaridade com a linguagem, distinção dos matizes, memória histórica, termos de comparação. Os interesses reinantes têm beneficiado do colapso dos instrumentos críticos. Da miniaturização da linguagem. Da ablação da memória. Da unicidade de critérios. Da tirania das escolhas. Do condicionamento das atitudes. Do emparedamento do gosto. Qualquer negociante de secos e molhados ou vendedor de electrodomésticos profere impunemente a sua galegada. Desde que seja riquíssimo. Os ricos não se contentam só com o acatamento. Querem servilismo. Exigem veneração. Chão lambido. Têm-no garantido. Meia dúzia de economistas oficiosos – sempre os mesmos – aprestam-se ao culto público de «os Mercados» com o fervor genuflectido duma adoração ao Espírito Santo. Tenho gente que estimo na chamada «comunicação social». Uns são amigos. Outros, às vezes sem os conhecer, merecem-me respeito e, até, admiração. E nisto conta pouco a posição política. Creio que posso não apenas exceptuá-los, mas chamá-los a mim, ao dizer que uma boa parte da informação redesenha o anúncio da voz do dono. Tem vindo a preparar sistematicamente as consciências para o presente festival do patronato. As opiniões correntes nos jornais são cada vez mais as opiniões dos proprietários e administradores dos jornais. Instruções dadas pelo telefone? Em encontros misteriosos? Nem tanto. Antes o instinto de captação do comprimento de onda. Afinação dos registos. Querença. Qualquer desvio táctico é calculado, como a deriva dos navios ancorados no fundo. Os resultados da propaganda avaliam-se no médio prazo. As contas fazem-se no final do ano. Trata-se de manter o populacho resignado, ou orientar-lhe as efusões para os pontos em que se esfumem. Tudo são apelos ao conformismo e à submissão, convites à obediência e ao redil. O povo, quando presente é constituído em populaça. A ralé sempre fez o jeito às contra-revoluções. Chegamos a esta maravilha paradoxal de serem os carneiros a eleger os lobos, os coelhos a eleger os furões, os pintos a eleger as raposas, as carpas a votar no lúcio, o melro a votar na cobra. Com os da ralé pode a ganhuça bem. É travesti-los de consumidores. O consumidor por natureza é dócil. «Para ver já a seguir. Não saia daí». Já o cidadão tende a complicar. É antipático e incómodo. Toma distâncias e faz escolhas. Há que silenciá-lo, ridicularizá-lo ou desacreditá-lo. Como se fez, em tempos, aos «abolicionistas». Como pode uma economia colonial saudável funcionar sem escravos? Coisa de otários. Propuseram-se cintilantes modelos sociais. Emergiram criaturas desenvoltas, de lábia expedita e olho para o negócio. Onzeneiros e agiotas, azes da tranquibérnia e chatinagem. Abocanharam recursos. Aviltaram as instituições. Tornaram o país inabitável. Foram aduladíssimos. Alguns confiaram em excesso na protecção mediática, nas virtudes da desregulação, na negligência dos aparelhos democráticos. Uma vez processados, aplicaram narizes redondos de plástico vermelho em todos os magistrados da República Portuguesa e continuam nas mesmas vidas. A desvalorização do confronto esquerda e direita continuará enquanto a direita tiver mais voz. Mas por pequenos sinais se mostra uma diferença indelével. Num debate, nunca ninguém de esquerda dirá: «vocês não têm o monopólio da generosidade (da sensibilidade, da humanidade, ou da cultura…». Está assente que não precisa de afirmar isso. Outro sinal diferenciador do interveniente de esquerda é ser ele, por sistema, interrompido pelos locutores, com um «mas» malcriado ou zeloso. Pelos mesmos que nunca ousam interromper os comerciantes de secos e molhados ou outros patrões, por mais repulsivos que se mostrem.

segunda-feira, julho 02, 2012

Nunca ninguém perdeu dinheiro apostando na desonestidade. (Millor Fernandes)

A bem do progresso!!!!

Ayer, 6 de junio de 2012, mientras los banqueros y los especuladores de España y Europa se frotaban las manos ante el anuncio de mayores recortes sociales y laborales, la policía cargó contra los mineros asturianos, y una vez más el escritor se quedó fuera de mi cuerpo, como una piel molesta en la que el teclado o la simbólica pluma sobra, está de más, no sirve, no la quiero. Las manos se van solas hacia la recia piedra, y sirven para levantar la barricada cuya fortaleza es la mejor de las novelas, el más sentido poema que se pueda escribir. Luis Sepùlveda

Fotos do "Carnaval da Vitória" / 1985-Angola

domingo, maio 20, 2012

JOÃO BAPTISTA DE CASTRO VIEIRA LOPES

Elaborado pela família de JOÃO BAPTISTA DE CASTRO VIEIRA LOPES Como assumiu em vida, JOÃO VIEIRA LOPES, viveu 80 anos. Nascido a 8 de Maio de 1932 faleceu a 10 de Maio de 2012. Filho de José Vieira Lopes e de Eugénia de Castro, concluiu os seus estudos secundários no então Liceu Salvador Correia, hoje, Mutu Ya Kevela, em 1951, ano em que segue para Portugal para ingressar na Faculdade de Medicina em Coimbra, em Setembro de 1952. Joãozinho, como foi tratado desde a infância e nos tempos das lides futebolísticas, emergiu duma família de rigor e de princípios e transformou-se num vulto da nossa terra, transpirando humanidade em todos os campos em que se dedicou. Sua vida se destaca como nacionalista, médico, intelectual, chefe de família, patriarca de família, activista cívico, parlamentar, democrata, futebolista e dirigente associativo. Suas características impressionam pela coerência de princípios, pela modéstia, capacidade de harmonização, coragem e liderança. Sua actividade esteve eivada de actos de profunda análise reflexiva e visionária, como de estoicismo e heroísmo, de capacidade de adaptação a várias circunstâncias e, sobretudo, de sobrevivência em situações difíceis, mas igualmente, ilustrada com profunda intuição. Muito cedo construiu os alicerces de seu pensamento nacionalista e progressista. A situação colonial fascista entrava em choque com seus valores de liberdade e justiça social. Para dar expressão a sua inteligência e ao seu coração, no contexto do colonial fascismo português, participou orgânica e formalmente, a partir de 1954, em várias organizações cívicas e políticas. Assim, foi Tesoureiro da Direcção da Casa do Estudantes do Império, militante do MUD Juvenil (Movimento de unidade Democrática) e é co-fundador do Clube Marítimo Africano Em consequência da sua ampla actividade política e social foi preso pela polícia política portuguesa em 1955, havendo permanecido nas masmorras da PIDE ao longo de 2 meses. Nesse mesmo ano, e apesar de já estar referenciado pela PIDE, não teme em ser testemunha de defesa de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, no Tribunal de Relação do Porto, acusado de actividades contra a segurança do estado. Convém realçar que é o único Angolano que se dispõe a fazê-lo, demonstrando sua coragem sempre que em jogo estivessem valores a defender e vidas humanas a preservar. Sua actividade política, enquanto se formava superiormente, é intensa. Assume em 1958 a liderança da Casa dos Estudantes do Império. Na mesma altura integra as células clandestinas do MAC – Movimento Anti Colonial e no ano seguinte faz-se, na mesma base, militante do FRAIN – Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional. Sua filiação ao MPLA - Movimento Popular pela Libertação de Angola - data desde 1960, também na clandestinidade. João Vieira Lopes conceptualiza, organiza e realiza, sob bandeira das Organizações africanas em que militava, juntamente com outros nacionalistas, em 1961, a grande fuga de Portugal de cerca de 120 estudantes das Colónias. Tal acto, que envergonhou, por se sentirem ludibriadas, as polícias secretas portuguesa e francesa, mostra não só capacidade de organização, como o necessário espírito conspirativo, prenhe igualmente de coragem e determinação. Essa fuga de cérebros juntava-se ao movimento de massas que entretanto emergia com os acontecimentos libertadores de 4 de Fevereiro e 15 de Março em Angola e contribuía para completar o xadrez humano indispensável para o derradeiro progresso da causa nacionalista. Mostra ainda o espírito de desprendimento e de entrega a causa nacional de intelectuais que poderiam ter permanecido na Europa fazendo uma vida normal. É, na realidade, o corolário da dignidade e do dar sentido à vida, cujo ideal patriótico, era um rasgo indelével do seu carácter. Rumo ao continente berço, João Vieira Lopes, agora, o nosso BAVI, passa por ACRA e CONACRY, fixando-se na então cidade de Leopoldeville, hoje, Kinshasa. Na sua chegada a Leopoldeville assume vários cargos, funções e missões no contexto organizacional do MPLA. Assim, - Integra a partir de Agosto, a estrutura de direcção máxima do MPLA, denominada Comité Director - É nessa qualidade indigitado responsável da Juventude, havendo recebido o actual Presidente da República de Angola no seio da respectiva organização juvenil; - É membro da Direcção do CVAAR – Corpo de Voluntários Angolanos para Ajuda aos Refugiados – com funções no campo da saúde. JOÃO Vieira Lopes enquanto representante da Juventude encabeça as negociações com a juventude da UPA (União das Populações de Angola) e com o PDA (Partido Democrático de Angola) para unificação da juventude angolana. Em face de contradições internas no MPLA João Vieira Lopes sai em 1963 da sua Direcção. Dá a sua contribuição na então República da Argélia, integrando o seu Serviço Nacional de Saúde. Prossegue a sua formação médica iniciando a especialidade em Obstetricia-Genecologia na Faculdade de Medicina de Argel. Ainda nesse ano é co-fundador do Centro de Estudos Angolanos em Argel, importante célula de reflexão para a luta libertadora. Em 1964, entretanto, mantém a sua posição de não assumir cargos políticos de chefia e integra a guerrilha do MPLA, na Frente Norte, 2ª Região Político-Militar, como médico, e, durante 4 anos consecutivos, nessa qualidade, teve grande impacto a sua posição de organizador contribuindo, para; - Construção do primeiro Hospital de Retaguarda do MPLA em Matsende - Criação do primeiro Centro de Formação para Auxiliar de Enfermagem - Edição da Primeira Cartilha para Enfermeiros Auxiliares Em 1966 é Chefe dos SAMM – Serviços de Assistência Médica Militar – da 2ª Região e procede a reabertura de Postos Médicos. Usando a sua capacidade clandestina e conspirativa participa, em 1967, no ingresso para as zonas da 1ª região do Mpla, juntamente com o comandante Benedito e outros, de dois esquadrões de guerrilha, bem como munições e armamento, que estavam na zona de Leopoldeville (para onde se deslocara clandestinamente). Missões espinhosas e de heroísmo, que contavam com a colaboração de camaradas seus que tombaram durante o seu percurso e desenvolvimento. De 1969 a 1973 estagia em cirurgia no Hospital Geral de Brazzaville, montando a rede de assistência médica a todos os militantes evacuados das frentes de combate. Em 1974 adere a facção do MPLA Revolta Activa, juntamente com Joaquim Pinto de Andrade, Gentil Viana, Adolfo Maria, Maria do Céu Carmo Reis, Amélia Mingas e outros e formula o Apelo dos uma base crítica a condução da luta com novas propostas para enfrentar os desafios de Angola. No Congresso de união de tendências do MPLA, em Setembro de 1974, é eleito Presidente do evento por consenso entre as diversas alas (Ala da Direcção, da Revolta Activa e da Revolta do Leste o que traduz bem a sua capacidade de formular consensos e do respeito por parte dos seus camaradas. João Vieira Lopes, pese embora a sua imensa actividade social, política e militar foi um exímio e exemplar pai de família. Casado em 1958 com Gina Mendes de Carvalho, teve um casal de filhos. Sempre que estivesse a arrumar a caixa verde os filhos já sabiam que se ia ausentar para uma missão militar. Terno e disciplinador, mas com uma educação que permitiu sempre aos filhos escolherem as suas opções, soube conciliar a sua opção política, a sua exigente carreira profissional, com a dedicação e orientação que seus filhos precisavam. Lygia e Johnny nascendo em espaços diferentes devido as contingências da vida, já recordam com saudades a extrema dedicação e profunda amizade de seu pai a eles, seus conjugues e filhos. Têm-no como um exemplo. Érik, Karine, Stefane, Yane e Joãozinho bem como os restantes netos beneficiaram bastante do seu amor, da transmissão de afabilidade, da histórias da vida. Seus netos eram a sua grande alegria, o que ficava bem plasmado nas festas de família. Sua companheira das últimas décadas Hermínia Clinton não se conforma com sua partida. Não há duvida que para a toda a família João Vieira Lopes - o irmão, o primo, o tio - sem nunca o demonstrar ou pretender sê-lo, acabou por se afirmar como o patriarca da família. O seu gesto mais sublime era a preocupação que nutria por todos, a forma como acompanhava a evolução da saúde, a instrução e o círculo de interesses de todos quanto o procuravam. Sua profunda amizade com o comandante Ingo Vieira Lopes é um referencial forte para todos nós: um modelo inspirador de relação familiar. Nunca utilizando um sentido discriminatório soube aqui dedicar uma atenção particular a diversas situações difíceis porque passaram muitos familiares. As estórias abundam. João Vieira Lopes sabia conviver com tendências diferentes e jamais abandonou amigos de peito por divergências políticas. Apenas um caso entre vários, sua amizade com o colega Sílvio de Almeida. Profissionalmente, temos um Dr João Vieira Lopes que assegurou os serviços de Ginecologia com dedicação ímpar, contribui para a organização dos serviços de forma engenhosa adaptando-o sempre as precárias condições, soube estabelecer laços humanos com todos os seus colegas e sobretudo reconhecia o mérito daqueles que mostravam qualidade e dedicação. Muitos colegas tinham-no como segundo pai. Desde 1978 O Professor Doutor João Vieira Lopes passou a condição de Titular da universidade Agostinho Neto. A sua experiência médica foi um grande auxiliar de ensino para seus estudantes. Rigor científico coadjuvado com fina intuição, centrada no extremo respeito pelo doente e na responsabilidade da missão, permitiram-lhe ganhar a confiança docente dos seus estudantes. O carinho pela socialização do saber era tanto que mesmo enfermo seleccionava livros pessoais e fazia questão de pessoalmente ir oferecer a biblioteca da Universidade. João Vieira Lopes tinha um espírito irreverente, mas calmo. Na medida das suas forças desejava corrigir o mundo para trilhar novos caminhos. Por isto, foi um homem de rupturas e nunca de status quo que não se reconhecia na sua consciência. Por isto, mesmo depois de 1974 continuou a trilhar caminhos e rompendo com o ideário mono partidário assumiu com coragem uma das Vice-presidências da ACA (Associação Cívica Angolana) juntamente com Germano Gomes, Milá Melo e Godfrey Nangonya. Joaquim Pinto de Andrade era o Presidente. A ACA pugnava pela paz, pluralismo e intervenção da sociedade civil nos assuntos públicos. Abriu caminho a democratização do país do ponto de vista político e aceitou ser deputado independente da FpD – Frente para a Democracia – eleito pela Coligação AD (Angola Democrática), nas primeiras eleições de Angola em 1992 (17 anos depois da proclamação da independência). Nessa qualidade integrou durante 16 anos a Assembleia Nacional, contribuindo para o debate legislativo. Integrou, como Secretário, a 1ª Comissão Parlamentar para a elaboração da Constituição Revista de Angola e participou em várias missões parlamentares. Contribuiu com a sua assinatura para a legalização do BD - Bloco Democrático, cuja relação com seus dirigentes permitiu oferecer muitos conselhos a organização. Soube, com outros concidadãos, protestar, há menos de dois meses, contra a vaga de repressão que se vem abatendo sobre manifestantes no país, opondo a sua assinatura num abaixo assinado dirigido ao Presidente da República. Um acto de elevada cidadania, de lucidez, de persistência democrática e humanistica, de apoio e orientação para a juventude, apesar do seu estado de saúde. Ao morrer deixa vagas a Presidencia da Assembleia Geral da Liga Africana e do Clube “Vila”. Fundador da Liga Africana, legítima herdeira da Liga Nacional Africana, foi seu Presidente de Direcção até há dois anos. Soube assim honrar seus antepassados que se esforçaram por elevar a dignidade do povo angolano com acção cívica, percursora da luta de libertação nacional. João Baptista de Castro Vieira Lopes não deu apenas a sua Juventude, deu toda a sua vida a causa da humanidade. Sabemos que o país não está ainda em condições objectivas de avaliar pessoas da sua magnitude. O tempo encarregar-se-á disso e estamos certos que este vazio que hoje sentimos, será preenchido por seus ensinamentos de vida, sua coerência e vontade de viver. Paz a sua Alma! Cemitério do Alto das Cruzes, em luanda, aos 12 de Maio de 2012

domingo, abril 08, 2012

Elogio póstumo da sobrinha Constança Gomes ao tio Maurício

Elogio póstumo da sobrinha Constança Gomes ao tio Maurício

Glória eterna a Maurício de Almeida Gomes (1920‐2012)

"Mas onde estão os filhos de Angola, se os não ouço cantar e exaltar tanta beleza e
tanta tristeza, tanta dor e tanta ânsia desta terra e desta gente?"
Por estes dias estamos todos muito tristes, o luto bateu‐nos à porta, morreu,
anteontem (dia 2), em Lisboa, aos 92 anos de idade, o nosso tio Maurício de Almeida
Gomes. Ele era o patriarca da família porque era o mais‐velho sobrevivo dos 8 filhos de
Mário José Gomes (dos quais 6 com Ema de Lemos Rodrigues de Almeida Gomes).
Agora ficam connosco apenas os tios Vicente (Portugal) e Abílio (Angola).
O ti "Mau", como carinhosamente o chamávamos, sempre foi um homem exemplar e
uma referência para todos nós. Inteligente, dedicado e trabalhador alcandorou‐se aos
níveis mais altos socio‐profissionais da Angola da sua época, numa sociedade onde a
discriminação social e racial eram prática quotidiana. Com serenidade, determinação e
sem revanchismo, soube ultrapassar todos os obstáculos e subiu, degrau a degrau, por
mérito próprio, em concurso público, em que normalmente era o primeiro classificado,
até ao escalão máximo dos Serviços das Alfândegas de Angola, tendo sido reformado
como Director Geral. Para ele os valores mais importantes eram resumidos por
"palavras basilares, edificantes: trabalho, instrução, educação", como ele próprio dizia
na sua poesia.
Maurício de Almeida Gomes (o tio Mau) foi também um grande poeta e articulista
interventivo. Desde cedo, ainda estudante, começou a publicar artigos temáticos, no
"Estandarte", o órgão literário do Liceu Salvador Correia, onde era estudante. Mais
tarde, escreveu para o Farolim e para as revistas "Cultura", da Associação Cultural de
Angola, encabeçada por Eugenio Ferreira, e "Angola", da Liga Nacional Africana,
associação de que foi membro dos seus órgãos directivos, ao lado de "sô Botelho", o
digníssimo mais‐velho Botelho de Vasconcelos.
Foi um poeta visionário, de tom messiânico que chamou, no início dos anos 1950, os
seus compatriotas a construir a sua identidade literária. Na sua escrita de ressonância
"estilística de tradição popular" (Manuel Ferreira) exalta a terra e as suas gentes,mas
denuncia também a dor e ânsia dos angolanos de serem eles próprios. Algumas das
suas inquietações são ainda, infelizmente, actuais. Senão vejamos os poemas Bandeira
e Exortação que escolhemos como exemplos.
(eb)

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Uma publicação do CITA, em que a segregação racial era evidente!

Se tivermos em conta que são festas de fim de ano, estas fotos valem mais que mil palavras.