segunda-feira, janeiro 18, 2021

Yes Minister (2-3-4-5-6-7-8)



 Sim, Senhor Ministro (2)

Ministro dos Assuntos Administrativos, Jim Hacker [recém-chegado ao ministério] - Quem há mais no nosso departamento?
Sir Humphrey Appleby - Eu sou o subsecretário de Estado permanente, o [Bernard] Woolley é o seu secretário particular principal. Eu tenho um secretário particular principal, que é secretário particular do secretário permanente. Há dez secretários delegados responsáveis perante mim, e 87 secretários e 219 secretários adjuntos que respondem perante os secretários particulares principais. O primeiro-ministro vai nomear dois subsecretários parlamentares e o senhor nomeará o seu secretário particular parlamentar.
Ministro - E sabem todos escrever à máquina?
Sir Humphrey - Nenhum de nós sabe. Quem faz isso é Mrs. McKay. É a secretária.

Sim, Senhor Ministro (3)
Ministro dos Assuntos Administrativos, Jim Hacker - Este ministério tem de eliminar muita burocracia. Vamos dar aqui uma vassourada, abrir as janelas para entrar ar, pôr esta máquina obsoleta em ordem.
Sir Humphrey Appleby - Uma limpeza, quer dizer?
Ministro [sentado à secretária] - Isso mesmo. Há demasiada gente sentada à secretária
Sir Humphrey - ...
Ministro - Não me refiro a nós. Temos de correr com aqueles que só estão a fazer número!
Bernard Woolley, secretário particular do ministro - Correr com eles?
Sir Humphrey - Redistribuí-los, quer o senhor dizer.
Ministro - Sim, sim. Quero pô-los a trabalhar. Somos adeptos de um Executivo aberto: é nisto que o meu partido acredita e que serviu de base ao nosso manifesto eleitoral. Temos de abrir a política ao País. Que tal?
Sir Humphrey [segurando uma pasta com papéis] - Veja estas propostas. Esboçam a implementação dessa política e contêm a base para um Livro Branco, que a meu ver deverá chamar-se Governo Aberto.
Ministro - Então já foi tudo...
Sir Humphrey - Já foi tudo tratado.
Ministro - Quem preparou tudo isto?
Sir Humphrey - A máquina burocrática obsoleta.

Sim, Senhor Ministro (4)
Ministro dos Assuntos Administrativos, Jim Hacker - Quando é que trato desta correspondência toda?
Bernard Woolley, secretário particular do ministro - Não é obrigado a isso.
Ministro - Não sou?
Bernard - Se não quiser, não. Podemos elaborar uma resposta oficial.
Ministro - E essa resposta diz o quê?
Bernard - Diz: "O ministro pediu-nos para agradecer a sua carta." E acrescentamos: "O assunto está a ser considerado." Ou, em alternativa, especificamos que "o assunto está a ser seriamente considerado."
Ministro - Qual é a diferença?
Bernard - "A ser considerado" significa que perdemos o dossiê. "A ser seriamente considerado" significa que andamos à procura dele... Basta passar as cartas do cesto de Entrada para o de Saída, acrescentando uma nota se quiser ver a resposta. Se não quiser, não voltará a ser maçado com este assunto.
Ministro - Quer dizer que se eu as transferir daqui para ali, mesmo sem ler, não preciso de fazer mais nada?
Bernard - Sim.
Ministro - E tratam disso?
Bernard - Precisamente.
Ministro - Tratam de tudo como deve ser?
Bernard - Imaculadamente.
Ministro - Então para que serve aqui um ministro?
Bernard - [Muito hesitante] ... Para tomar decisões políticas. Decide e nós executamos.
Ministro - E quando é que essas decisões são necessárias?
Bernard - De vez em quando...
Ministro - [Indignado] Este Governo veio para governar! Não veio só para fazer de conta que governa, como o Governo anterior. Quando um país vai por aí abaixo chega um momento em que é preciso alguém tomar conta do volante e carregar no acelerador.
Bernard - Julgo que quer referir-se ao travão, senhor ministro.

Sim, Senhor Ministro (5)
Sir Humphrey Appleby - Bernard, você sabe muito bem que tem de haver uma forma de medir o êxito da administração pública. A British Leyland mede o êxito pela dimensão dos lucros ou, melhor dizendo, mede o falhanço pela dimensão dos prejuízos. Mas nós, na função pública, não temos lucros nem prejuízos. Temos de medir o êxito pela dimensão do nosso pessoal e pelo volume do nosso orçamento. Um organismo grande tem mais êxito do que um pequeno.
Bernard Woolley - Isso quer dizer que o responsável pela Autoridade Regional do Nordeste agiu mal ao economizar tanto?
Sir Humphrey - Claro que sim. Ninguém lhe pediu para fazer isso. Já pensou se todos fizéssemos o mesmo? Se todos começássemos irresponsavelmente a poupar dinheiro público?
Bernard - Mas é isso que o ministro quer...
Sir Humphrey - Os ministros vêm e vão. Duram em média menos de onze meses em funções. O nosso dever é ajudar o ministro bater-se por mais dinheiro para o ministério, por maior que seja a reacção de pânico que isso lhe provoque.
Bernard - E não o ajudamos a superar o pânico?
Sir Humphrey - Não, não. Ele que fique em pânico. Os políticos apreciam isso, o pânico fá-los sentir activos. Serve-lhes como sucedâneo das concretizações. Só temos de nos certificar de que isso não altera nada.
Bernard - Mas são representantes do povo, democraticamente escolhidos...
Sir Humphrey - Os deputados são escolhidos pelas secções locais dos partidos: 35 homens de gabardina ou 35 mulheres com chapéus ridiculos.
Bernard - Mas o Governo é escolhido de entre os melhores deles...
Sir Humphrey - Bernard, só há 630 deputados. Basta um pouco mais de trezentos para formar governo. Desses trezentos, cem são demasiado velhos e demasiado tontos. Outros cem são demasiado jovens. Sobram cem deputados para preencher cem postos governamentais. Não há escolha. Não houve selecção nem preparação. Temos de ser nós, na administração pública, a fazer o trabalho deles.

Sim, Senhor Ministro (6)
Ministro dos Assuntos Administrativos, Jim Hacker - Dá-me uma resposta directa a uma pergunta directa?
Sir Humphrey Appleby - Com todo o prazer, desde que não me peça que caia em generalizações grosseiras e simplificações excessivas, como sim ou não..
Ministro - Isso é um sim?
Sir Humphrey - ... Sim.
Ministro - Cá vai então a pergunta directa.
Sir Humphrey - Pensei que já a tinha feito.
Ministro - Vai apoiar ou não a minha tese de que existem funcionários públicos em excesso?
Sir Humphrey - Se me pede uma resposta directa direi que, tanto quanto é possível verificar, respondendo por ordem, e tomando a média dos departamentos, talvez, em última análise, seja provavelmente verdade dizer que, em termos gerais, se descobriria, sem forçar, que provavelmente nenhum dos aspectos em consideração tem peso excessivo. Tanto quanto se pode presumir, nesta fase.

Sim, Senhor Ministro (7)
Sir Humphrey Appleby - Bernard, o ministro ainda não veio?
Bernard Woolley - Não. Está em reunião, no gabinete.
Sir Humphrey - Que reunião é essa?
Bernard - Nada de especial.
Sir Humphrey - Estou a ver... E que reunião foi aquela de ontem?
Bernard - O ministro esteve a rever as respostas que dará às perguntas que lhe chegam do Parlamento.
Sir Humphrey - Mas nessa reunião estiveram secretários-adjuntos e outros subalternos.
Bernard - Só aqueles que lhe fornecem informações.
Sir Humphrey - Bernard, isso tem que acabar já!
Bernard - Porquê?
Sir Humphrey - Acha que o ministro deve começar a dirigir o ministério?!
Bernard - Sim. Por acaso nessa matéria as coisas até estão a correr bastante bem.
Sir Humphrey - Não, Bernard. Quando um ministro começa a dirigir o ministério as coisas não correm nada bem. Pelo contrário, começam a correr mal.
Bernard - Mas não cabe ao ministro dirigir o ministério?
Sir Humphrey - Não. Essa é a nossa função. Ou melhor: é a minha função após 25 anos de experiência na administração pública. Já imaginou o que aconteceria aqui se deixássemos de ser nós a dirigir o ministério?
Bernard - Não. O que é que aconteceria?
Sir Humphrey - Para começar, instalava-se o caos. Depois acontecia algo muito mais grave: haveria inovações, mudanças, discussão pública.
Bernard - Mas o que deve ele fazer então?
Sir Humphrey - Bernard, um ministro tem três funções. Primeira: tornar os nossos actos plausíveis aos olhos do público e do Parlamento - ele é o homem encarregado das relações públicas. Segunda: é o nosso homem no Parlamento, encarregado de fazer passar a nossa legislação. Terceiro: é o nosso ganha-pão - tem de bater-se no Governo pelo dinheiro necessário para fazermos frente às despesas que temos no ministério. O que ele não tem é de reunir-se com secretários-adjuntos!
Bernard - Mas se ele tem tempo disponível...
Sir Humphrey - Se tem, não devia. A culpa é sua: você tem de conseguir que ele não disponha de tempo. Preencha-lhe a agenda: ele devia fazer discursos, fazer visitas, viajar ao estrangeiro, enfrentar crises, emergências, momentos de pânico. Você permite que ele disponha de tempo livre!
Bernard - Ele é que consegue...
Sir Humphrey - Insista em preencher-lhe a agenda.
Bernard - Ele não me deixa.
Sir Humphrey - Não lhe pergunte: faça! Obrigue-o a passar mais tempo num local onde não possa estorvar-nos.
Bernard - Mas onde?
Sir Humphrey - Na Câmara dos Comuns, por exemplo.


Sim, Senhor Ministro (8)
Sir Humphrey Appleby - Bernard, os ministros nunca devem saber mais do que é necessário. Assim não podem dizer nada a ninguém. Tal como os agentes secretos, também eles podem ser capturados e torturados.
Bernard Woolley, secretário particular do ministro - Por terroristas?
Sir Humphrey Appleby - Pela BBC.

Yes Minister (1)

 




Sim, Senhor Ministro (1)

Sir Humphrey Appleby - Bruxelas vai introduzir um bilhete de identidade europeu, para uso de todos os cidadãos da CEE. O Ministério dos Negócios Estrangeiros vai aceitar para poder negociar a montanha de manteiga, o lago de vinho, o oceano de leite, a guerra do carneiro e o cheirete a bacalhau. O primeiro-ministro, como é lógico, quer que seja o senhor a apresentar [aos ingleses] a nova legislação.
Ministro dos Assuntos Administrativos, Jim Hacker - Eu?!
Sir Humphrey - Sim. O senhor é conhecido como pró-europeu e, a longo prazo, esta legislação poderá ser benéfica para a nossa administração.
Ministro - Boa ideia, não acham?
Frank Weisel, conselheiro político - Boa ideia?!!
Ministro - Boa ideia?!!
Sir Humphrey - Não é boa ideia?
Frank - É um suicídio político!
Ministro - Obrigar os ingleses a usar um documento de identificação! Vão dizer que estou a introduzir um estado policial. Foi para isto que combatemos em duas guerras mundiais?!
Sir Humphrey - Vendo bem, ministro, isto é pouco mais do que uma carta de condução.
Ministro - É o último prego no meu caixão!
Frank - Porque não tratam os Negócios Estrangeiros disto?
Sir Humphrey - Foi essa a sugestão inicial do primeiro-ministro. Mas os Estrangeiros disseram que era questão para o Interior. E o Interior disse que se tratava de um assunto administrativo e o primeiro-ministro acabou por concordar.
Frank - Andam todos a passar a batata quente!
Ministro - Não admira, se vai explodir.
Sir Humphrey - Receio que esta venha a ser a último acção deste departamento: um excelente cavalo de batalha para os eurocépticos.
Ministro - Os Estrangeiros não vêem o mal que isto vai causar ao ideal europeu?
Sir Humphrey - Claro que vêem. Por isso mesmo é que procedem desta maneira.
Ministro - Os Negócios Estrangeiros não são pró-europeus?!
Sir Humphrey - Sim e não... se me permite a expressão. São pró-europeus porque, no fundo, são anti-europeus. A nossa administração pública sempre fez tudo para que o Mercado Comum [europeu] não funcionasse. Por isso entrámos nele.
Ministro - De que é que você está a falar?!
Sir Humphrey - Senhor ministro, há pelo menos 500 anos que a Inglaterra tem a mesma política no plano internacional: criar uma Europa desunida. Por isso nos aliámos aos holandeses contra os espanhóis, aos alemães contra os franceses, aos franceses contra os alemães e os italianos. Dividir para reinar. Porque haveríamos de alterá-la agora se tem resultado tão bem?
Ministro - Isso é história antiga!
Sir Humphrey - Isto é gestão corrente. Para destruir tudo tínhamos que entrar para lá. Tentámos destruir de fora, mas não resultou. Agora que estamos dentro podemos transformar aquilo numa bagunça. Pôr alemães contra franceses, franceses contra italianos, italianos contra holandeses. Os Negócios Estrangeiros estão satisfeitíssimos. É como nos velhos tempos.
Ministro - Mas estamos empenhados no ideal europeu...
Sir Humphrey - [Ri-se]
Ministro - Então porque é que apoiamos a entrada de novos Estados-membros?
Sir Humphrey - Pela mesma razão. É como na ONU. Quantos mais países tiver, mais zaragatas haverá, mais inútil se torna.
Ministro - Que cinismo terrível!
Sir Humphrey - Nós chamamos-lhe diplomacia, senhor ministro.

quarta-feira, fevereiro 14, 2018

CAMILO NOS “ECOS HUMORÍSTICOS DO MINHO” EM 1880(EXCERTO)






CAMILO NOS “ECOS HUMORÍSTICOS DO MINHO” EM 1880(EXCERTO)
«Padres, cheios de ideias e bifes de cebolada, fazem discursos com largos gestos, aquecendo as imagens com os cigarros que sorvem engolindo o fumo e a gramática num grande desprezo da moral e da sintaxe. São os futuros abades e cónegos. Braga tem exportado alguns oradores excelentes para estes comícios rurais. O povo das feiras escuta-os com atenção palerma, e parece que os acredita tanto nas estalagens como nos púlpitos. A religião e a política deste povo, pelo que respeita à consciência, é tudo o mesmo. O cristianismo é uma exterioridade de símbolos, sem ideia, sem convicção, com todos os prejuízos da Idade Média, e nenhum dos preceitos sociais da religião depurada pela joeira da filosofia. Aqui, de dez em dez anos, aparecem uns missionários que são uns Dantes extemporâneos na descrição miúda do inferno. Não ensinam, rugem horrores sempiternos, que perdem na fé dos ouvintes o que lucram na intensidade descritiva dos tormentos. Ora, “pregar não há-de ser praguejar”, dizia Gil Vicente a D. João III dos frades de Santarém. Algumas mulheres, durante a missão, rapam as cabeças, emagrecem, abandonam a lavoura, desprendem-se das obrigações domésticas, e ficam para toda a vida inúteis, em uma pasmaceira estúpida. Outras, não se rapam, nem se convertem; pelo contrário, depois dum grande misticismo sem orientação inteligente, despapam-se na languidez da carne ociosa, e fazem asneiras como quase todas as ascéticas dos modernos romances – as Albinas e as Amélias de Zola e Queirós. Mas as ladras ficam ladras; e as que tinham razão de macerar o corpo dão os próprios ossos ao diabo».

sábado, dezembro 09, 2017

OPERAÇÃO VICTORIA OU MORTE: SUA EXPLICAÇÃO

OPERAÇÃO VICTORIA OU MORTE: SUA EXPLICAÇÃO
Há 47 anos, teve lugar a operação Victoria ou Morte, que foi realizada a 4 de Junho de 1969. Muito tem sido já falado, em Angola, no tempo em que existia um conflito latente entre o Povo Angolano e o colonialismo português.
Desde a data da acção no 4 de Fevereiro de 1961, o Comité Director do MPLA não cessava de chamar a atenção das condições que existiam entre os beligerantes. Foram lançadas palavras de ordem, no sentido de se realizarem "acções e mais acções", constituindo bases seguras para se alcançar o fim da presença colonial na nossa terra.
Deve ter sido uma das acções de maior vulto realizada, porque a organização das células estava em consonância com as directrizes que o MPLA havia determinadas, no contexto de se levar a todo o espaço do território angolano, a chama da Liberdade e a vontade de vermos a nossa terra Independente, ao lado de outros países, para se irradicarem todas as formas de colonialismo em África, e prosseguir o seu caminho (como dizia o Presidente Agostinho Neto).
Aliás, este facto foi um dos pressupostos que mais tarde, em 1963, esteve na origem da fundação da OUA (Organização de Unidade Africana).
O Mundo já estava em evolução. Muitos territórios tornavam-se independentes. Com a aparição dos dois blocos que criaram a Guerra Fria, logo a seguir a Segunda Guerra Mundial, o fenómeno da evolução passou a constituir a principal preocupação dos povos colonizados.
Surgiram os ideais do Pan-Africanismo; ouve a mudança da Sociedade de Nações para a Organização das Nações Unidas; as Independências do Terceiro Mundo estavam a vista; muitas conferências se realizaram; as lutas de Libertação chegaram as regiões vizinhas de Angola. Os Portugueses, em face da opressão causada nos territórios coloniais, eram denunciados nos mais diversos areópagos internacionais.
Em contrapartida, os colonialistas portugueses diziam que em Angola ninguém queria a Independência, e que todas as ideias vinham de fora, principalmente dos Congos e dos Comunistas. Os Portugueses ignoravam as prisões e as deportações dos Angolanos.
AS VISITAS DE MARCELLO CAETANO
A 17 de Abril de 1969, O Professor Doutor Marcello Caetano, pisava talvez pela segunda vez a cidade de Luanda. Creio que, quando ele era Ministro das Colónias, veio a Angola para inaugurar o Porto Comercial de Luanda, em 1947.
Em 1969, já como Primeiro Ministro de Portugal, realizou mais uma visita oficial, que servia para demonstrar que "Angola era Portugal", e que as Populações Angolanas não queriam a Independência.
Os Portugueses tiveram reações de contentamento em terem aqui o sucessor de Salazar. Por sua vez, algumas das reações dos Angolanos naquele tempo, oscilavam entre a continuidade da presença lusitana, e por outro lado, a opinião daqueles que já estavam enquadrados em grupos envolvidos em acções clandestinas de apoio às lutas de Libertação Nacional que na altura estavam associados ao MPLA e a UPA. E bom aqui referir que naquele tempo só estes dois movimentos, lutavam NACIONALMENTE, contra os desígnios do colonialismo português.
As pessoas podem perguntar o seguinte: E a UNITA? A UNITA não existia. Alguns dos chefes que mais tarde iriam fazer parte da UNITA estavam na UPA, que já vinha da UPNA. A designação de UPNA significava União dos Povos do Norte de Angola. Dois Presidentes (Kwame Nkrumah e Amed Sekou Touré), chamaram o Presidente Holden Roberto e procuraram saber se ele só pretendia libertar o Norte de Angola. Foi por isso que os dois presidentes mandaram retirar o "N", ficando só o termo UPA (União dos Povos de Angola).
Mais tarde, dadas as divergências entre Holden Roberto e Jonas Savimbi, foi criada a UNITA, em 1966. A partir daí, a UNITA, em princípio, só estava conotada com alguns membros da SWAPO e da SWANU. Só dois anos mais tarde, por causa do Caminho de Ferro de Benguela, é que a UNITA entregou-se de mãos dadas a tropa portuguesa, a mando de Costa Gomes e da PIDE.
Em face dos demais, condicionamentos de traição, a UNITA ligou-se a política de Mwangai, ao Apartheid, e aos interesses relacionados com as desavenças regionais. Foi assim o percurso que a UNITA teve, quando se aliou ao inimigo número um de África, no então regime racista da África do Sul.
Como seguíamos as directrizes que eram provenientes do então Comité Director do MPLA, de que eram necessárias realizarem "acções e mais acções" para expulsão do Colonialismo Português em Angola, decidimos também juntar esforços neste sentido.
FOI NESSA PERSPECTIVA QUE SE REALIZOU A OPERAÇÃO "VICTORIA OU MORTE"
Esta missão teve como principais objectivos o seguinte:
1- Demostrar a África e o Mundo e ao colonialismo português, que a luta de Libertação levada a cabo pelo MPLA era para obtenção da Independência de Angola, e para terminar com o colonialismo português na nossa terra.
2- Libertar as senhoras da Igreja Metodista Unida de Angola, detidas pela PIDE/DGS, desde 25 de Outubro de 1968, na prisão de São Paulo em Luanda. O nosso grupo levou um avião para Ponta Negra, afim de pressionar o Governo fascista português a libertar as vinte(20) senhoras que estavam encarceradas.
3- Foi a resposta concreta à propaganda colonial portuguesa que se havia servido da viagem do então Chefe do Governo Português, Professor Doutor Marcello Caetano a Angola em 17 de Abril de 1969, que dizia que os Angolanos não queriam a Independência, e que eram pessoas estrangeiras que alimentavam tal pretensão.
4- A Operação foi de encontro às palavras de Ordem da Direção do MPLA, acima citadas.
5- A Operação "Victoria ou Morte", foi igualmente para homenagear os patriotas Angolanos que já haviam derramado o seu sangue pela libertação da Pátria e para pressionar o Mundo para a libertação de todos os presos políticos.
Quando surge o 4 de Junho de 1969, tudo mudou e a 10 de mesmo mês, as senhoras da Igreja Protestante eram postas em liberdade, por causa da Operação de resgate. Elas sofreram muitos interrogatórios; muitas delas às altas horas da noite. Continuo a dizer que a PIDE não tem perdão. As senhoras já tinham sido condenadas e deveriam ir para o Namibe, na Baía dos Tigres, quando realizamos a Operação.
A PARTICIPAÇÃO DA IGREJA PROTESTANTE
A minha família ajudou a libertar o nosso País. Nem há nenhuma dúvida quanto a isso! Muitas famílias também fizeram o mesmo. Desconhecem-se muitos aspectos da participação efectiva, na Luta de Libertação, de muitos outros cidadãos!
Assim da Torre do Tombo extraímos os seguintes Processos da PIDE/DGS, assinados pelo Inspector Adjunto Reis Teixeira, e dirigido ao Encarregado do Governo Português, Mario Governo Montez, em 19 de Agosto de 1972.
ALBERTO ANTONIO NETO
Em Março de 1960, encontrava-se já referenciado como elemento politicamente suspeito, por tomar parte em reuniões clandestinas no Musseque do Cemitério Novo, utilizando para o seu transporte e de outros uma carrinha que então possuía.
É pai de Luís António Neto Kiambata e de António Alberto Neto, sendo o primeiro, um dos assaltantes do avião DC-3 da D.T.A. que em Junho de 1969 foi obrigado a mudar de rumo e seguir para Ponta Negra; o segundo irmão ausentou-se ilegalmente da Metrópole em 1963, seguindo para França onde se formou em Direito, sendo um fervoroso adepto da Independência de Angola, de tendências acentuadamente comunistas e representante do MPLA em Grenoble.
JOSEFA LUÍS ANTÓNIO NETO
É casada com Alberto António Neto, anteriormente mencionado.
Foi detida em 1968, para averiguações, por ser membro activo da OMA, Organização da Mulher Angolana. Por despacho do Exmo Secretário-Geral, de 23 de Maio de 1969, foi-lhe fixada residência em Luanda por três anos.
TEODORO ERNESTO WEBBA
Em Março de 1958 enviou uma carta a COSTA N'KODO, elemento preponderante da UPA, para ser entregue por este ao Administrador de Matadi, no qual solicitava autorização para fixar residência naquela localidade, com toda a sua família, e fazia acusações contra as autoridades portuguesas.
Em Maio de 1960 foi indicado pela Aliança Evangélica de Luanda, como um dos seus delegados à Conferência Central que se realizou na Rodésia do Sul, não lhe tendo sido concedida autorização para ali se deslocar por motivo dos antecedentes que contra si existiam.
Em Março de 1961, foi preso pelas autoridades administrativas de Cambambe, por estar implicado numa tentativa de rebelião, de carácter terrorista, que deveria eclodir em 15 de Abril seguinte, na referida região. Considerado elemento perigoso, foi-lhe aplicada a pena de seis anos de fixação de residência, conforme despacho do Exmo. Secretário-Geral de 1 de Agosto de 1961. Por despacho da Sua Excia o Governador-Geral, de 13 de Agosto 63, foi-lhe dado por finda a pena.
Em Abril de 1964, solicitou a transferência da sua residência para o Quessua-Malange, tendo-lhe sido indeferida por despacho do Exmo Secretário -Geral.
Em Dezembro de 1969, segundo informação digna de crédito, Teodoro Webba, a uma interpelação de uma Irmã sobre a sua mudança de credo religioso, teria respondido, "A esperança dos negros está numa fé forte e no ódio ao branco e suas aldrabices".
SIMÃO JOÃO CARDOSO
Esteve detido desde 8 de Junho a 13 de Agosto, por ter contribuído com dinheiro para as famílias dos presos políticos.
Em Outubro de 1970, esteve, juntamente com outros, no palácio do Governador Geral a solicitar explicações sobre a detenção de alguns estudantes universitários que haviam seguido para Cabo-Verde. É considerado no meio estudantil universitário como elemento político perigoso.
GASPAR ADÃO DE ALMEIDA
Foi preso em 7 de novembro de 61 por actividades subversivas, tendo-lhe sido aplicado a pena de dois anos de fixação de residência, por despacho do Exmo Secretário Geral, de 26 de Dezembro 61.
Continuou sempre referenciado como elemento muito suspeito politicamente.
EMILIO JÚLIO MIGUEL DE CARVALHO
É arguido no processo-crime no. 617/61, por actividades contra a segurança do Estado, tendo confessado nos autos as suas actividades que consistiram em:
Ter feito parte de reuniões de carácter político-subversivo atinentes à Independência de Angola.
Ter recolhido fundos para a "UPA", a qual pertenceu posteriormente;
Ter remetido para o estrangeiro propaganda, pedindo o auxílio dos países africanos para luta de que fazia parte.
Pelos crimes praticados foi punido, por despacho do Exmo Secretário Geral de 31-01-62, com uma medida de segurança administrativa de fixação de resistência por 3 anos, que cumpriu.
ZACARIAS JOÃO CARDOSO
Em 1963, segundo noticia inserida no boletim semanal "Victoria ou Morte ", no 12 de 10 de Nov 62, do MPLA Fazia parte do Comité de Estudantes nos EUA, os quais manifestavam a sua simpatia e apoio a unificação dos movimentos terroristas numa Frente de Libertação Nacional.
Existe contra ele, pedido de captura (US no. 208/63 da Direcção- Geral)
É irmão de Simão João Cardoso.
MANUEL ANTÓNIO MONIZ
Tem criticado o Bispo Andreassen por este ter, por diversas vezes, defendido a política de Portugal no Ultramar.
RITA AMARO WEBBA
Referenciada como membro activo da "OMA", tendo sido detida em 1969 para averiguações.
Por despacho do Exmo. Secretário Geral, no 23.5.969, foi-lhe fixada residência em Luanda por três anos.
JULIO JOÃO MIGUEL
Em 1959 pretendeu passaporte para se deslocar ao estrangeiro.
Elaborado a respectiva informação que foi presente ao Exmo. Secretário Provincial, a mesma mereceu o seguinte despacho: "Informa-se que, dado os antecedentes do Miguel, não é de conceder o passaporte pedido nem de permitir a sua saída da Província.
Tem interdição de saída (O. S. No. 331/59, de 27 de Nov 59, da Delegação).
É pai de Emilio João Miguel de Carvalho, já mencionado como candidato a Bispo.
Há a tendência muitas vezes propositadas para se esquecerem algumas participações da luta pela independência do nosso País. Este facto do esquecimento, chega hoje em dia, a desmotivar e a desmoralizar muitos que merecem ser recordados enquanto estiverem em vida.
Pior ainda, é que existem indivíduos sem escrúpulos que não fizeram mesmo nada, nem mexeram nenhuma palha mas beneficiaram e continuam a receber algumas benesses que deveriam ser atribuídas aos verdadeiros Antigos Combatentes.
Na nossa África podem haver casos particulares que não se inserem nesta minha opinião, mas é uma grande verdade, que muitos só se lembram dos patriotas quando morrem. Este é um mau princípio. Lembrem-se deles enquanto estiverem em vida.
Portanto, quando forem solicitado por Antigos Combatentes, por favor, deiam-lhes uma melhor atenção. Não se esqueçam que foram eles que libertaram o nosso País.
Nesta hora em que recordamos os nossos camaradas, rendo homenagem ao Diogo de Jesus e ao Nelito Soares, pelo contributo que prestaram a causa da nossa Libertação. Recordo igualmente, todos que também participaram para que a nossa Missão se realizasse:
Luís Benedito Guimarães
Manuel Acácio Simões
Juca Valentim
Carlos Jorge
Flávio Fernandes
Os nomes das Senhoras que foram libertadas a 10 de Junho de 1969:
Leocádia de Figueiredo
Antónia Brandão Gaspar Martins
Mariana Pedro Neto
Rita Amaro Webba
Josefa Luís António Neto
Domingas Felix
Lucrécia Verissimo e Costa
Rebeca da Silva Cardoso
Eva Sebastião Felix
Maria da Conceição Gaspar Martins
Antónia Mendes
Conçeição Martins (Avó Ximinha)
Sra. Josefa, lavadeira da D. Lucrécia
Beatriz José da Silva Cassule
Teresa da Silva Pimenta Cajocolo
Eva Francisco Silvestre
Eva Gaspar Martins
Ruth, da Igreja do Redentor
Uma Sra que tinha ido visitar a D. Lucrécia, acabou também por ser presa.
Estas senhoras, a maior parte delas já não pertence ao mundos dos vivos, nunca foram nem homenageadas, nem condecoradas, nem patenteadas. Aliás, é um direito que as assiste, assim como de muitos mais Antigos Combatentes que todos os dias calcorreiam, muitos sem sucesso, as ruas das nossas cidades, para saberem se já saíram as listas, quer de promoções, de patenteamentos, quer de pensões, num vai e vem em que as dificuldades sociais estão nitidamente à vista de todos.
Também, muitos Antigos Combatentes confrontam-se com a animosidade, sobretudo em Gabinetes onde vão saber algo a que têm direito, e não poucas vezes são mal atendidos, esquecendo certas pessoas que os fazem passar vexames, de que esses é que deram o melhor de si para libertarem Angola.
A minha mãe e as outras senhoras sofreram as sevícias da PIDE. Neste momento, ela tem 95 anos. A PIDE introduzia entre os dedos e as unhas uma agulha, para as presas falarem. Esses são alguns dos crimes que os fascistas e colonialistas protagonizaram.
O mais velho Francisco José Fortunato, falecido a já algum tempo, falou comigo e disse o seguinte: "Que tinha sido projectado da Delegação do Huambo do segundo andar, em 1968, pelo agente da PIDE, o Investigador Reis. Até o velho Fortunato falecer, tinha problemas de coluna.
De igual modo, o também mais velho Kandumba Hoji, do seu nome Daniel da Silva Neto, presenciou o seguinte: "A PIDE amachucou o falecido Paiva Domingos da Silva com paus, chicote, e sem camisa. Eu estava na cela em face do Paiva da Silva"- afirmou o antigo combatente Kandumba Hoji. Os carcereiros que massacraram o Paiva da Silva, eram o Lontrão, o António Rodrigues e o seu cunhado David, comandados por São José Lopes. Kandumba Hoji ainda disse: "Que comemos carne humana, em São Pedro da Barra, na altura em que o grupo de Angelino Alberto se entregou às Autoridades Portuguesas". Daí Kandumba foi transferido para a cadeia da PIDE em São Nicolau, no Namibe, e de lá, "observou pessoas que foram queimadas nos fornos que estão dentro das cadeias".
É por isso que volto a dizer que a PIDE não tem perdão.
De igual modo, a PIDE esteve também relacionada, por exemplo com Carlos Pacheco, o tal que sonhou com Salazar....
O que escreve o dito angolano português, Carlos Pacheco, demostra uma grande falta de patriotismo. Não há dúvidas que ele, por não ter participado na luta do povo angolano pela Independência, teve a meu ver, estreitas ligações com a PIDE, do qual depois de ter sido um Comando Português, desvalorizou-se porque muitos daqueles citados, já não podem defender-se e como agente e informador da PIDE, Carlos Pacheco simplesmente tem em vista o exercício de agradar os seus verdadeiros mentores.
É possível que um fraldiqueiro, um cão acostumado ao regaço de homens e mulheres, se comporte como um animal canino que esteve ao serviço da PIDE? Ele é um soberbo que está a procura de poiso, isto é, da PIDE para se aquartelar.
São esses os duplos de nacionalidade que tenho insistido em desmascarar. Aconselho que se resolva a questão presente da Dupla Nacionalidade. Há alguns que usufruem disso:
Alguns Membros dos principais partidos políticos, a saber, do MPLA, da UNITA, da CASA-CE, etc....
Alguns Ministros
Muitos que têm casas , sobretudo em Portugal, África do Sul, etc.
Alguns membros do Oposição. Cheguei a perguntar recentemente ao Sr. Ministro das Relações Exteriores, o Dr. Chicoti, na Reunião dos Embaixadores, se é legítimo, se é normal, se é ético um agente diplomático, beneficiar do Estatuto de Dupla Nacionalidade. Não tive resposta.
Alguns Jornalistas, muitos deles em conflito com certas franjas do povo angolano, agridem-no vergonhosamente, sem respeito para com a mãe África. Alguns desses são os continuadores dos Bufos da PIDE, e desvalorizam a própria Independência Nacional. Quem quiser ter outras nacionalidades, não sou eu que lhes vou proibir. A única coisa a fazer é abdicarem da nacionalidade angolana. Todo angolano só deve ter como estatuto, uma só Pátria, a Pátria Angolana. Quem for Angolano deve, em primeiro lugar ser Angolano.
E porquê que digo isso? Digo porque se não fosse assim, não teria sentido a nossa luta de libertação. A luta de libertação foi para quê? Todo o jornalista que tiver uma outra nacionalidade, além de ser anti-patriota, é um Imbangala doutros tempos, um descendente dos indivíduos que foram agentes da PIDE.
Os nossos mortos, feridos, mutilados, etc, merecem mais respeito, senhores políticos, de todas as matrizes. Os jornalistas Angolanos não podem ser estrangeiros também.
Quando houve a reunião do Alvor, devem lembrar-se do que disse o Presidente Agostinho Neto a dado passo: "Aqui as pretensões dos colonialistas ficaram enterradas para sempre". Nós saudamos os teus filhos que tombaram pela nossa Independência, porque a Pátria nunca mais esqueceremos!!!
Está é a minha opinião!!!
Mesmos os portugueses têm cláusulas que determinam em que condições um indivíduo perde a sua nacionalidade. Aqui, até o João Soares, o Zé dos Anzóis...e a Cabra Cega da Ana Gomes que são portugueses, vêm a Angola para nos insultar.... Eles ainda pensam que Angola é da mãe Joana!!!
AS CÉLULAS.... E O NOSSO PROJECTO DE LUTA PARA A INDEPENDÊNCIA
O nosso projecto foi para contradizer o espírito da portugalidade que o regime fascista tinha imposto. Foi também para valorizar a nossa terra, dando dignidade a todo povo angolano, que soube enfrentar com abnegação e espírito de sacrifício contra a escravatura, a humilhação, os vexames, e eu tenho sempre dito, a portugalização dos espíritos, por causa da nossa mãe África.
Triunfou a razão, porque a causa do povo angolano enquadrou-se no domínio das guerras justas, e foi para defesa dos valores da Liberdade e para o resgate da identidade, pela construção de um mundo melhor, rumo a amizade é a solidariedade entre povos, pela paz, pela victoria e progresso da Humanidade. Foi por isso que se lutou.
Diogo de Jesus foi um dos principais organizadores das redes que operavam na Ilha de Luanda, no Comité Regional de Luanda (CRL) da rede do MPLA. Ele participou no FUJA. O FUJA era a Frente Unida da Juventude de Angola, um agrupamento de estudantes do Liceu Nacional Salvador Correia, fundado por Alberto Neto, em 1961. Faziam parte do FUJA, além de Alberto Neto, Diogo Fernandes Jacinto Lourenço de Jesus, João Arnaldo Saraiva de Carvalho (o Tetembua), Eduardo Santana Valentim (Juca Valentim). O FUJA tinha por fim enquadrar os estudantes angolanos e mentalizá-los sobre a Independência de Angola.
Com a ida para estudos em Portugal, de Alberto Neto, o FUJA ficou a ser dirigida em Angola, por Juca Valentim. Mais tarde, e ainda nos anos 60, alargaram-se as redes do MPLA, e os seguintes elementos faziam parte das células:
Juca Valentim, Vicente Pinto de Andrade, Diogo Lourenço de Jesus, Luís Neto Kiambata, Manuel Domingos Jorge, o companheiro Sousa- do ASMA, Gilberto Saraiva de Carvalho, André Mateus Neto, António José Ferreira Neto, Álvaro José de Melo Cerqueira Santos, Rui Filipe Martins Ramos, António Garcia Neto.
Por outro lado, Diogo de Jesus animava em simultâneo a rede do MPLA na Ilha de Luanda. Faziam parte:
Aldemiro Vaz da Conçeiçao, Luís aceita "Luís XV", Francisco Caetano "Kiriata", Vicente Pinto de Andrade "Ndembu", Joaquim Vanga, Makiala, Vasco de Jesus, Domingos Mário Simão "O Boa", Manuel Bernardo, Eusébio Dias dos Santos, Calhandro "Mvula".
Formou-se depois o Comité de Acção Nzají, dirigido por Luís Benedito Guimarães "O Kalaff". Faziam ainda parte:
Manuel Acacio Simões, Chico Romão, Manuel Caetano Soares da Silva "Nelito Soares", Luís Neto Kiambata, Juca Valentim.
A partir deste grupo, é coptado Juca Valentim, para o Comité Nzaji, para questões técnicas de apoio à Operação "Victoria ou Morte", que na altura estava em curso.
De igual modo, Kiambata foi transferido do CRL para o Comité Nzaji, para acompanhar mais de perto os propósitos da Operacão.
QUANDO ADERIU AO MPLA? UMA BOA PERGUNTA!!!
Não é fácil, nem tão pouco cómodo falar de si próprio. Aderi ao MPLA em 1963, através do meu irmão mais velho, Dr. Alberto Neto. A partir daí, foram criadas células em algumas cidades de Angola. Foi através do meu irmão que algumas células tomaram contacto com a Direção do MPLA, isto na fase do Comité Director. Através de contactos, recebíamos informações, alguma documentação vinda quer de Brazzaville, da Argélia ou de Conakry.
Foi ainda em 1963 que tivemos conhecimento das primeiras dissidências no seio do MPLA, onde alguns camaradas se sentiam desmoralizados por causa do que se passava no então Congo Léopoldville, em que o desaparecimento de Patrice Lumumba iria criar uma grande tragédia que se arrastou até aos nossos dias.
Foi também nessa altura que a OUA foi fundada, por trinta (30) Chefes de Estado, que se propuseram levar avante os propósitos da Libertação de África, a nossa mãe África como tenho sempre dito. Nas nossas redes clandestinas, ouvíamos nomes como Kwame Nkrumah, Sekou Touré, Ben Bella, e possivelmente de outros, que mais tarde viríamos a conhecer.
Quando aconteceu o 4 de Fevereiro de 1961, e a repressão que se seguiu, surgiu um nome que não posso deixar de mencionar. Trata-se do Comandante Paiva Domingos da Silva. Já na Angola Independente, ele participou na ODP, (Organização de Defesa Popular).
Uma vez em Lisboa, o Dr. Arménio Ferreira disse-me que o Inspector Reis Teixeira, antigo Director da PIDE, frequentava a Torre do Tombo. Por portas e travessas, cheguei a falar com ele, lá mesmo na Torre do Tombo. O Inspector, já velho, chegou a dizer-me:
"Sr. Embaixador, as coisas passaram-se assim! Toda gente tem segurança, para defesa das Instituições. Eles tiveram a PIDE, vocês têm a DISA; os Americanos, Franceses, Ingleses, enfim, todos têm a sua segurança. Mas devo dizer-lhe um facto. Ouve um preso, de nome Paiva, que nós maltratamos. O agente que o maltratou foi o Lontrão. O Paiva desmaiou no interrogatório. E nós, chegamos a pensar que ele tinha morrido. Deitamos um balde de água, e mais tarde ele (o Paiva) recuperou. Ele disse então : "Sr. Agente, podem mesmo me matar, mas Angola vai ser Independente."
Isso disse-me o Reis Teixeira. Ele morreu a cerca de 10 anos. São factos que Paiva da Silva viveu.
O 4 DE FEVEREIRO DE 1961
O 4 de Fevereiro marca para sempre, o início da luta armada de Libertação do povo angolano. Houve muitas lutas no passado. Em muitas delas houve confrontos entre Angolanos e os colonos Portugueses, através dos tempos.
Quando no século XV, em 1482, os colonialistas Portugueses sedentos de terras e de identidades, eram acusados pelos infiéis, encontraram como alternativa (ao que dizem), "mares nunca dantes navegados", o que os levou a terras desconhecidas onde enfrentaram as mais diversas calamidades, cujos percursos causaram também os maiores massacres que a História registou.
Foi nesta senda que se completaram os cerca de 500 anos no processo, até que os patriotas Angolanos e outros, ousaram terminar com o status quo da colonização. Também os nossos povos passaram por isso, e é ali que se enquadram as "guerras do Kwata Kwata", "as guerras sem quartel", "as lutas tribais", cada uma com a sua etnografia (ciência que estuda os povos, suas origens, suas línguas, religiões, costumes, em suma a sua etnogenia.
Mas durante algum tempo, muita gente queria explicar alguns aspectos da luta de libertação. No nosso processo histórico, temos que honrar os feitos protagonizados por aqueles patriotas que estavam na base do desencadeamento da luta de libertação, porque foram eles que lançaram as âncoras de tudo quanto veio a seguir.
Restam poucos, mas deveríamos recordar aquele punhado de patriotas que enfrentou o carácter injusto da dominação colonial, abandonando tudo, para levar avante o processo de luta que se circunscrevia na mudança do Estatuo político, nos territórios, até então dominados por Portugal.
Hoje, todos beneficiam do bem estar, porque a Independência foi conseguida, inclusive por aqueles que sempre tiveram dúvidas quanto ao nosso sucesso. Mas não devemos esquecer os enormes sacrifícios vividos, quer nas prisões, quer nos campos de concentração, quer pelas vidas que se perderam, quer ainda pela luta heróica levada a cabo pelos guerrilheiros que em muitas frentes de combate, estiveram à altura dos objectivos que se propuseram atingir, nomeadamente, a Independência.
Nomes como José Cristino Pinto de Andrade devem ser lembramos, assim como de Gervásio Ferreira Viana, Manuel Inácio Torres Vieira Dias, Sebastião José da Costa, e Teodoro Lima da Paixão Franco, Anibal de Melo, Eduardo Correa Mendes, António Macedo, o Padre Franklin da Costa, Rosário Neto.
Não foi fácil para aqueles que na altura eram jovens, mas que já sentiam a necessidade de verem terminadas as humilhações a que estiveram submetidos os povos de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé, e mesmo do próprio Portugal, cujo fascismo também levou vidas.
Assim temos: José Eduardo dos Santos, Pedro de Castro Vandúnem, Balduíno Bwanga, Mário Santiago, Julião Mateus Paulo, "Dino Matrosse", Rita André Tomás, Mona, João Filipe Martins, José Agostinho Neto, Roberto Victor de Almeida, José Mendes de Carvalho (Hoji a Henda), Daniel Júlio Chipenda, Maria Mambo Café, Afonso Vandúnem Mbinda, Francisco Paiva "Nvunda", Ana Wilson, Brito António Sozinho, Carlos Belo "Belli Bello", Mário Afonso de Almeida "Cassessa", João Vieira Lopes, Manuel Videira, Gentil Viana "Afrique", Tico Monteiro, Costa Andrade "Ndunduma", Monimambo, Fernando Assis, Fernando Paiva.
A PARTIR DE 1945, O QUE VEIO?
Foram criados os Blocos, depois de 1945, e logo a seguir, estabeceram zonas de influência, que iriam mudar o mundo como mudaram, a correlação de forças que transformaram todas as decisões tomadas nos últimos 60 e 70 anos. Os dois blocos assim criados, embora antagônicos, primaram no princípio pela liberdade dos Povos colonizados; prova disso, vamos encontrar nas Conferências de Yalta e de Potsdam em que foi aprovado o direito dos Povos à autodeterminação, seguido das suas Independências. Era o período da Descolonização que se abria.
De notar que as duas grandes potências nunca se degladiaram, e não vão fazê-lo (Rússia e USA). Ainda há dias, numa publicação num jornal, eu disse e reafirmo, que a única coisa que se sabe, foi quando as duas potências estiveram de acordo sobre o direito dos povos coloniais atingirem as autodeterminações e Independências. Fora disso, não houve mais nada em relação à paz!!! Foram as grandes potências que criaram a subserviência dos Povos Africanos e não só. Uns foram para as Esquerdas, outros para as Direitas, o que me levou a definir isso como "um bailado equivalente ao maquiavelismo de aldeia".
Nós temos os nossos heróis. Nunca é demais recordar aqui os grandes vultos do nacionalismo, tanto africanos como os partícipes nacionais. É aqui que os grupos dos 50 e dos 36 estão de parabéns, porque souberam vingar bem alto, o facho da luta anti-colonial.
Lembramos nomes como Agostino Neto, Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Simao Gonçalves Toco, Hugo de Menezes, Lúcio Lara, Amilcar Cabral, o médico Eduardo dos Santos, Matias Miguéis, Kapicua, Ndalu, André Franco de Sousa, Padre Joaquim Pinto de Andrade, Ilídio Machado, Higino Aires, Marcelino dos Santos, Gabriel Leitão, Sebastião Gaspar Domingos, Pascoal Veríssimo e Costa, Carlos Aniceto Vieira Dias, António de Assis Júnior, Carlos Alberto Vandunem, Amadeu Amorim, João Lopes Teixeira, Luís Rafael, Candido Fernandes da Costa, Alberto António Neto, Manuel de Oliveira Fernandes, Francisco Africano, Hermínio Joaquim Escorcio, Belarmino Vandúnem, Mário António, António Pedro Benge, Joaquim de Figueiredo, Salvador Sebastião, Afonso Dias da Silva, André Rodrigues Mingas, Joffre Vandúnem, Agostinho André Mendes de Carvalho, Lourenço Vaz Contreiras, José Bernardo Domingos Kiosa, Florençio Gamaliel Gaspar Martins, Alvaro Lutukuta, Loth Malheiro Savimbi, Manuel Bernardo de Sousa, José Diogo Ventura, Adão Domingos Martins, Armando Ferreira da Conceição, Nobre Pereira Dias, Noé da Silva Saúde, João Luís Cardoso, Horacio Brás da Silva, João da Costa, Jorge Miguel, José Lisboa, Job Baltazar Diogo, Mário Alcântara Monteiro, Armando Guinapo, Manuel Quarta Punza, André Petrof, Pascoal Luvualu, Rui Filomeno de Sá "Dibala", Jerónimo Sinedima, Manuel Lopes Maria "Ximutu", Domingos Moséis "Victoria Certa", João Evangelista Hailonda, Lanvu Emanuel Norman, Armando Campos Major "Chicota", Jose Domingos Francisco Tuta "Ouro de Angola", Armando Bezerra Grande, Jovita Nunes, Samuel Magalhães "Dudu", Adolfo Nsikalangu, Fernando Brica, Isaac Moséis, Elias Augusto, Manuel Vandúnem, Almeida Kamundanga "Kamu d'Almeida", Desidério Verissimo e Costa, Ismael Gaspar Martins, António Domingos Amaro, Manuel Augusto Borges Bamba, Jordão Aguiar, Sebastião Vicente, José Miguel "Pau Preto", Domingos Sebastião dos Santos "Manomingo", José Carlos Mouzinho, Bau-bau "Zola", Camarada Capitão Capitão, Nossa Verdade, Samsumina, Prof. Ndifuila, Canhela Mpotwe, Zito Vandúnem, "Jújú de Almeida" Comandante Jújú, M'beto Traça, Fantomas, André Miranda, Ngakumona, Ambrósio Lukoki, Puegas, Mário Leonel, Spiel , Portugal, Ramos e Madame Faty, Viking, Vencedor, Noé Gil, Zorca, Valodia, Ruth Neto, Luisa Quarta, Inga Inglês, Luísa Filipe, Pedro Mavunza, Siona Casimiro, Sam Luvualu.
Consta-se o Engenheiro António Calanzaje Duarte, Dra. Julieta Gandra, José Meireles, António Veloso, Helder Neto, e Contreiras da Costa. Realçamos ainda alguns exilados no estrangeiro, mas que estiveram incluídos em processos judiciais: Cónego Manuel das Neves, António Barros Nekaka. Rui Ventura (também conhecido com o nome de Holden Roberto), António Jacinto, Deolinda Rodrigues, Inocêncio Martins, Jorge Mingas, Pedro Vandúnem.
Os que pertenciam ao MINA: Manuel Pedro Pacavira, Bernardo Silas, David Bernardo Eça de Queirós (Kinjinge), Fernando Coelho da Cruz, assim como outros que participaram no MINA: Adolfo João Pedro, Semião Adão Manuel (Kafuxi) Simão João Cardoso, Francisco Webba, Mário António, Joaquim Bernardo Manuel, Herbet Inglês, Adriano Sebastião e Rodolfo da Ressurreição Bernardo. Sei que estou esquecendo muitos nomes de camaradas as eles que me perdoem....
É bom recordar os nossos valores, para não estarem esquecidos nos tempos actuais e vindouros. É por isso bom recordar os nossos heróis. É bom manter viva a chama da luta pela Independência. Cada um de nós cumpriu o seu dever. Uma coisa que ainda não cumprimos, foi a homenagem ao Diogo de Jesus e ao Nelito Soares , a título póstumo. Merecem pelo facto de também terem contribuído para libertação do País.
As eleições estão a chegar. O número é o 4.
O 4 foi a data do massacre da Baixa de Kassange.
O 4 foi a data do início da Luta Armada.
O 4 é o dia em que se realizou a missão "Victoria ou Morte".
O 4 é o dia da Paz.
O 4 é também o dia do meu aniversário.
Vote por isso no número 4.
Luís Neto Kiambata
26/06/17