Angola, Anatomia de uma Tragédia
Extractos do livro Angola, Anatomia de uma Tragédia, General Silva Cardoso,
Oficina do Livro.
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Pg.330/331
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"A interpretação jurídica que o Dr. Almeida Santos deu a esta cláusula era que ela obrigava «à consulta directa e universal das populações das colónias, na salvaguarda dos seus interesses dentro de princípios democráticos». Durante algum tempo e em quase todas as suas intervenções públicas, Almeida Santos e a maioria dos novos políticos da época reiteravam este princípio como essencial na definição da política ultramarina dentro da nova ordem democrática que se pretendia não só instituir como consolidar. Ao povo soberano, através do voto, ser-lhes-ia dada a possibilidade de decidir do seu futuro, salvaguardando os seus interesses. Inclusivamente Mário Soares, numa entrevista que em meados de Junho deu ao «Século», afirmou: «Portugal teria o respeito mais absoluto pela vontade das populações livremente expressa, aceitando a independência como uma das opções possíveis do direito dos povos à autodeterminação.»
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Não me admirava que a grande massa do povo português de todos os continentes aceitasse e compreendesse os princípios que iriam orientar a sua vida nos tempos que se avizinhavam. No entanto, pessoalmente, estava bastante céptico quanto à viabilidade prática da sua aplicação nos territórios ultramarinos. Reportando-me apenas a Angola, onde conhecia bastante bem a situação no terreno, não tinha quaisquer dúvidas sobre a impraticabilidade duma tal consulta, a curto ou médio prazo, visto uma guerra que ali se arrastara durante treze anos ainda não estar completamente debelada. Eu sabia, mas o pior e mais preocupante, era que os senhores do MFA, também o sabiam e nada fizeram para arranjar soluções alternativas sempre subordinadas aos interesses das gentes desses territórios. Algo parecia pouco claro em toda esta formulação de linhas de acção para resolver o problema da guerra que parecia ser um dos grandes objectivos do movimento do 25 de Abril. Foi com esta e outras bandeiras de liberdade, paz, democracia e progresso que mobilizaram e quase convenceram a grande massa do povo português. No entanto, a aceleração que imprimiram ao processo levaria à inevitável reacção e às dúvidas que se começaram a levantar quanto aos verdadeiros objectivos da revolução.
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As minhas preocupações, decorrentes da agitação que se vivia em todos os sectores da vida nacional, conduziam à conclusão de que a questão do Ultramar, do maior significado para todo o espaço nacional, não iria ser resolvida democraticamente com se pretendia fazer crer mas, tão-somente, por via revolucionária. Só estranhava que um homem com a larga experiência e conhecimento de África como o Dr. Almeida Santos viesse convictamente a defender nas suas intervenções públicas este princípio inquestionável da consulta popular. Ele também devia saber ou ter a consciência de que esse processo era impraticável no contexto social das Províncias Ultramarinas.
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Já não me admirava com a demagogia do Dr. Mário Soares quanto às soluções que defendia para o problema ultramarino que, em teoria, não se afastavam muito dos princípios constantes do programa do MFA, mas que na prática não tomavam em consideração os direitos da grande maioria das populações que nunca tinham estado envolvidas em qualquer tipo de conflito subversivo ou, tendo estado, acabaram por aderir voluntariamente às forças da ordem. Em Angola, onde tinha permanecido até Setembro de 1973, talvez mais de noventa por cento das suas gentes nada tinham a ver com a guerra e, por isso, a interpretação que Almeida Santos deu ao clausulado do programa relativo à política ultramarina me parecia correcta embora inexequível em termos práticos. O conhecimento que Mário Soares tinha de África, especialmente dos territórios sob administração portuguesa, advinha certamente, aliás como afirmou, dos contactos que mantinha com elementos ligados aos chamados movimentos de libertação, desertores e refractários das nossas Forças Armadas durante os seus exílios pela Europa, que condenavam a nossa presença naquela região do globo. Recordo a sua inoportuna presença na mesa da conferência de imprensa que o padre Hastings deu em Londres uma semana antes da visita oficial a Inglaterra de Marcelo Caetano sobre a morte de civis inocentes ocorrido em Wiriyamu no distrito de Tete em Moçambique. Mário Soares nunca tinha visitado Moçambique, nem tão pouco Angola, não falara com nenhum dos protagonistas envolvidos na operação, mas estava ali para avalizar algo que só conhecia através das informações do próprio padre Hastings. Também este, por sua vez, não tinha estado no local e o seu relato era fruto do que lhe tinha sido dito por dois.padres espanhóis duma missão de Tete. Estes também não eram testemunhas oculares do alegado massacre nem lá se tinham deslocado e baseavam a sua história em informações relatadas pelos sobreviventes que se dirigiram ao hospital de Tete para receberem tratamento médico sem qualquer receio dos portugueses, pois ali a situação era totalmente controlada pelas forças da ordem. Era esta informação difusa e dispersa que constituía a razão de ser daquela conferência de imprensa a que a presença de Mário Soares pretendia dar credibilidade".
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Pg.333
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"Infelizmente, ao nível da execução, devido a factores inopinados e que não foi possível identificar, algo falhou e teve como consequência o incidente que logo na altura e ao longo dos tempos tem vindo a ser empolado e explorado na condenação dos métodos utilizados na forma como foi conduzida superiormente a contra-suversão. É certamente de lastimar o ocorrido que se insere dentro dos riscos inerentes à própria guerra, em especial quando a técnica do inimigo é dissimular-se no meio da população. Mas é curioso e salutar constatar que Portugal, conduzindo uma guerra em três frentes de combate num período de onze a treze anos, apenas um incidente deste tipo tenha sido referenciado e objecto de especulação política a que Mário Soares lamentavelmente se associou, não respeitando Portugal e as centenas de milhares de portugueses que por lá lutaram e alguns morreram. A sua presença naquela conferência de imprensa não poderá deixar de ser vista como um gesto de protagonismo pessoal. Claro que houve outras situações em que pessoas inocentes foram sacrificadas, mas tudo isso se terá de inserir dentro dos «custos» dum qualquer conflito armado. A nós, militares combatentes, apenas nos competia vencer a guerra no terreno para que a solução política fosse possível em condições mais favoráveis e, para tal, dispúnhamos de duas vertentes em que a nossa acção se teria de concentrar: eliminar o inimigo armado ou forçá-lo à rendição e conquistar as populações. Estes objectivos, por exemplo em Angola, foram plenamente atingidos. Mas que sabia o Dr. Mário Soares da guerra ou da própria realidade africana? Da guerra, o seu conhecimento só pode ser teórico e muito longe das condições em que centenas de milhares de portugueses se bateram com coragem e abnegação apesar de todas as carências e dificuldades que tiveram de enfrentar e, na minha opinião, não tinha um suficiente conhecimento de África que lhe permitisse fazer uni juízo concreto e realista da vivência das suas populações. Mas sabia e sabe as razões que o levaram a agir com tamanha destreza logo após o 25 de Abril.
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Em 27 de Abril, Mário Soares regressou a Portugal do exílio, avista-se com Spínola e logo em 29 reúne o Conselho Directivo do PS".
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Pg.334
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"Tudo isto sem que tenha sido ainda definido no Programa do Governo, conforme previsto no do MFA, a política ultramarina. Será de pensar se as linhas-base desta política não tinham sido já definidas em Paris, Praga ou em qualquer outro local da Europa, entre Mário Soares, Cunhal e um ou dois elementos do MFA, onde certamente não faltaria Melo Antunes, o verdadeiro cérebro da descolonização. Importa lembrar que Mário Soares disse ser este o único dos «capitães de Abril» que conhecera antes da revolução ter tido lugar, tendo-se encontrado com ele várias vezes.(...)
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Pg.355
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"Até hoje não apareceram, embora outras fontes tenham vindo a fazer referências a encontros secretos algures na Europa em que toda a estratégia revolucionária teria sido estabelecida. Muitas vezes tenho-me perguntado qual a razão por que a URSS, a partir de 1972 começou a reduzir o apoio ao MPLA, que acabaria por cessar completamente em princípios de 1974.
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Pg.366
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"No entanto Mário Soares está determinado em prosseguir a sua missão. Logo após o comício do 1.° de Maio, parte para uma digressão pelas principais capitais da Europa, donde tinha vindo cinco dias antes, para explicar aos seus contactos quais os objectivos do 25 de Abril, mesmo sem desempenhar qualquer função estatal, sem possibilidades de já ter uma noção clara do que de facto está a ocorrer e que está a fazer esta digressão a pedido de Spínola! E por mera coincidência, simples acaso, logo no dia 2 de Maio encontra-se com Agostinho Neto em Bruxelas. Passados quase vinte e cinco anos após o casual encontro, ainda não revelou o teor da conversa então havida. Agostinho Neto, abandonado pelos seus amigos da União Soviética, sem a sua força de combate mais significativa que se unira em volta de Chipenda, restando-lhe apenas uma escassas dezenas de homens no Congo-Brazzaville completamente desmotivados, era um líder política e militarmente vencido mas o escolhido para se negociar a paz em Angola! Na sequência da conversa havida com Mário Soares, declara ainda em Bruxelas no dia seguinte, isto é, em 3 de Maio, que «a luta não cessaria em Angola enquanto não fosse reconhecido o direito à autodeterminação e independência». Terá sido este o tipo de mercadoria que Soares lhe vendeu? Se alguns poderão ter dúvidas, pessoalmente reservo-me o direito de não as ter com base na evolução dos acontecimentos que vivi intensamente durante todo o processo da descolonização de Angola".
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E não podemos deixar de concluir que foi em 2 de Maio de 1974 que Mário Soares deu o «pontapé de saída» para:
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a descolonização que classificou, primeiro, como um incontestável sucesso, em seguida, de exemplar e, depois de constatar o seu fracasso, de ter sido a possível;o arranque para a reabilitação de Agostinho Neto, o grande derrotado na luta em Angola e abandonado pelos quadros mais válidos do seu próprio movimento;
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a tragédia que conduziu às mais dramáticas situações que se vivem hoje nos países resultantes da dita descolonização e com a qual Palma Carlos não quis ser conivente, demitindo-se das suas funções e declarando: «Não quero morrer como traidor à Pátria»;
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a aceleração da sua trajectória ascencional na política portuguesa.
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Naturalmente que Mário Soares não esteve isolado em toda esta movimentação".
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Pg.377
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"Após ter sido empossado como ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares incrementa a sua actividade no campo específico da descolonização. Para além dos contactos com Agostinho Neto, encontra-se também com Aristides Pereira em Londres e Samora Machel, que cumprimenta com um efusivo e grande abraço, em Lusaka, ignorando tanto Savimbi da UNITA como Holden Roberto da FNLA".
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Pg.348
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"No dia seguinte, o chefe de gabinete informou-me de que seria oportuno avistar-me com alguns elementos da Coordenadora do MFA e com uma delegação do MPLA que, de Angola, se tinha deslocado a Lisboa a fim de apresentar superiormente os problemas que estavam a afectar, duma forma desastrosa, a vida naquele território. Já tinha conhecimento da presença desta delegação, à frente da qual veio o Dr. Diógenes Boavida, embora a generalidade da imprensa referisse, não uma delegação do MPLA, mas nacionalistas incluindo várias tendências políticas. Não manifestei a minha estranheza, mas esta referência não deixava de se inserir na estratégia de reabilitação do MPLA que era notória desde o primeiro encontro de Mário Soares, no dia 2 de Maio, em Bruxelas com Agostinho Neto.
.Aliás esta estratégia foi perfeitamente confirmada por Iko Carreira, um dos homens do Comité Central do MPLA, quando no seu livro O pensamento estratégico de Agostinho Neto afirma: «O MFA (Movimento da Forças Armadas) que tomou o poder em Portugal, através dum golpe de estado, que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, tinha tendências esquerdistas. Esse facto, fundamentalmente, levou-o a dar um maior apoio ao MPLA.»
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No dia imediato, 18 de Julho, encontrei-me com a delegação do MPLA que era chefiada pelo Dr. Diógenes Boavida, advogado formado em Coimbra e antigo jogador da Académica, tendo-se deslocado na companhia de mais cinco elementos. Ouvi-os atentamente, encontrando-se a sua conversa na enorme agitação, com muita violência à mistura, que grassava em Angola e, muito especialmente, em Luanda. Toda aquela confusão era consequência do assassinato dum taxista, no dia 11 desse mês, e não se cingia a uma simples questão rácica, que até nem tinha sido significativa".
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Pg.349
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"O aparecimento de numerosas formações políticas de cariz altamente reaccionário e que conduziam toda a sua actividade no sentido de provocarem a maior instabilidade em todos os sectores em vez de, como seria natural, se preocuparem com a luta política no campo das ideias. Havia vidas humanas que estavam a ser sacrificadas e a guerrilha urbana parecia ter-se instalado sem que as autoridades responsáveis tomassem as medidas adequadas para se acabar com a crise. Apesar de todas as diligências levadas a cabo, parecia-lhes que a solução passava pela substituição imediata do governador-geral e das chefias militares. Não representavam apenas o MPLA, mas igualmente todas as formações políticas cujo ideário era convergente com o daquele movimento que, pela sua maior e mais significativa implementação em toda a Angola, estava em melhores condições para negociar com o Governo português a independência do território. Acrescentaram que lhes tinha constado a intenção do governador-geral de pretender oferecer ao Dr. Jonas Savimbi um lugar no aparelho governativo colonial. Jonas Savimbi, segundo eles, estava à frente dum movimento sem qualquer expressão, a UNITA, e ate combatera na guerra ao lado dos portugueses contra os verdadeiros nacionalistas. Desta forma o governador, em vez de procurar acalmar a situação, parecia «lançar mais achas para a fogueira».
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Disse-lhes desconhecer a política ultramarina do governo central e que apenas tinha conhecimento de que essa política passaria por uma consulta às populações, como aliás o Dr. Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmara recentemente numa entrevista ao «Século»; «Portugal teria o respeito mais absoluto pela vontade das populações livremente expressa, aceitando a independência como uma das opções possíveis do direito dos povos à autodeterminação.»(...)
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P362
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(..)"Agora já não tinha dúvidas de que a constituição da Comissão de Inquérito não passara de um mero expediente, concretizado à última hora, na sequência da minha recusa para «tomar conta de Angola», para se prosseguir dentro de uma linha de acção que visava, prioritariamente, a reabilitação da imagem do MPLA de que o encontro entre Agostinho Neto e Mário Soares era um exemplo e a ida a Lisboa da tal delegação chefiada por Diógenes Boavida, outro indicador bastante claro.
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Após o almoço, fomos informados de que, ao fim da tarde, teríamos uma reunião com a coordenadora do MFA de Angola na fortaleza de S. Miguel onde estava instalado o Comando-Chefe da Forças Armadas. Já durante o café, conversei com o Pavão Machado que, como referi, exercia as funções de comandante da Região Aérea. Comentando a situação afirmou que «Angola estava entregue à bicharada mas nem por isso a Força Aérea deixava de cumprir as missões que lhe estavam atribuídas com o mesmo empenho de antes do 25 de Abril.»
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Referiu-me que tinham activado há uns dias atrás, no Totó a UTCI (Unidade Táctica de Contra-Infiltração) pois haviam recebido notícias, através de mensagens interceptadas, que alguns grupos de guerrilheiros da FNLA se preparavam para entrar em Angola e reactivar a luta armada.(...)"
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P392
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"Evidentemente que tudo isto era uma perfeita mistificação porque, no fundo, quem realmente detinha o poder continuava a ser a tal antena da 5.a Divisão ou do estado maior do senhor Kallenini principalmente através dos oficiais milicianos altamente politizados nos anos 68/69 e introduzidos nas Forças Armadas com o objectivo de as controlar e neutralizar. No fim eram estes senhores, coadjuvados por activistas do MPLA e tendo por conselheiros elementos do PCUS, entretanto infiltrados, que conduziam toda a estratégia, no interior de Angola, para entregar o poder ao MPLA. Era, sem dúvida, um dos «jogadores» a pôr cm prática a sua ordem de batalha para alargar a sua influência a este imenso e riquíssimo território. Havia, no entanto, uma questão que ainda os preocupava e que era por vezes abordada ao nível da Junta: a não resolução do problema da chefia do MPLA onde o entendimento entre as três facções parecia difícil. O congresso agendado para o dia 8 de Agosto nos subúrbios de Lusaka, passados dois dias, ainda não tivera início e grossas nuvens pareciam pairar sobre a sua realização. A luta pelo poder iria ser renhida e, teoricamente, só um vencedor seria aceite pelas entidades que reconheciam ou davam apoio ao MPLA: Agostinho Neto. O próprio Mário Soares, no seu livro, Portugal Amordaçado, dá como certa a nomeação do Dr. Agostinho Neto chefe do Estado Angolano. Mas o congresso não arrancava e a imprensa de Lusaka refere os acontecimentos de Angola, em especial, os incidentes que decorreram nos muceques de Luanda da responsabilidade de grupos afectos ao MPLA e à FNLA. Tratava-se não duma qualquer limpeza étnica, mas tão-só da luta pela conquista da supremacia política em Luanda através da acção do Poder Popular e duma comunicação social orientada para a defesa dos princípios ideológicos da doutrina comunista.
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Entretanto o congresso acaba por arrancar, mas no dia 25 de Agosto, Agostinho Neto fica em minoria após a apreciação de um relatório onde constavam as suas actividades durante a guerra de libertação e que conduziu a um total fracasso e à suspensão de todos os apoios do exterior, principalmente da URSS.(...)
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Pg.402
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"Mas a esperança de ver nascer a companhia de Páraquedistas depressa se transformou em profunda desilusão. Dos vinte e oito homens que tinham recebido a boina verde, cerca de dois terços desertaram nos dias seguintes e todo o projecto morria aqui. Perdia esta batalha, como muitas outras que já havia perdido ao longo da minha vida e mais algumas que, no futuro, ainda haveria de perder. Mas a vida é mesmo assim. Nem sempre se é vencedor e quando, por qualquer razão, a derrota nos bate à porta, temos apenas que considerá-la como um normal incidente de percurso e prosseguir. Os desertores acabaram por ir engrossar o poderio militar do MPLA e os restantes foram passados à disponibilidade, ignorando-se qual o destino que tiveram mas admitindo-se que tenham sido aliciados a ingressar noutro movimento. Tudo tinha sido preparado durante a fase de instrução e aqueles homens de Angola, contrariamente ao que se pensava, não iriam contribuir para a paz e concórdia entre todos os angolanos, mas fortalecer uma das partes em luta pelo poder.
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Desta forma, o movimento de libertação MPLA que na altura do 25 de Abril tinha caído ao seu nível mais baixo de sempre, parecia, a pouco e pouco, ressurgir do lodaçal onde estava atolado. Após duas tentativas frustradas em Lusaka para resolver o problema da direcção, acaba por encontrar uma solução, já em meados de Setembro, no Congo-Brazzaville quando neste país decorria uma conferência de líderes africanos. Agostinho Neto saiu vencedor e Pinto de Andrade e Chipenda, tornados vice-presidentes, depressa desapareceram da cena política. Resolvida esta questão, era importante pensar na componente militar reduzida à sua mais ínfima expressão. Primeiro conseguiram criar o chamado poder popular cuja acção foi determinante para a obtenção da supremacia política dentro de Luanda. Em seguida, com base nos efectivos angolanos que, integrados nas nossas Forças Armadas, iam passando à disponibilidade começaram, com a ajuda de alguns elementos do MFA, a entrar para as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola). Era a reabilitação do MPLA iniciada por Mário Soares a 2 de Maio em Bruxelas no seu encontro com Agostinho Neto e que não mais tinha cessado de crescer".(...)
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Pg.404
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"Entrava-se no mês de Setembro e a problemática da descolonização continuava um mundo de contradições e indefinições. Ninguém responsável conseguira definir a política ultramarina na sequência do 25 de Abril. Cada um agia de acordo com a sua consciência, os seus interesses ou as directivas recebidas de quem detinha o poder neste campo específico da vida nacional. No exterior, Mário Soares, Almeida Santos, Melo Antunes e outras personalidades de menor relevo, movimentavam-se intensamente para resolver o que consideravam ser o problema primeiro do País.
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Pg.405
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- Para libertar essses povos do jugo colonial?
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- Numa manobra de puro protagonismo em busca duma reafirmação pessoal no espaço nacional e internacional?
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- No cumprimento de directivas dos verdadeiros e mais interessados promotores do problema ultramarino com objectivos bem precisos?
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Analise-se com cuidado o percurso de Mário Soares, desde o 25 de Abril até ao 11 de Março de 1975, ou mesmo antes, quando começou a tomar consciência de que o «poder» que tanto ambicionava e pelo qual lutara tão arduamente durante tanto tempo, parecia escapar-se-lhe e ameaçava cair nas mãos dos comunistas.
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É, no mínimo, curioso verificar que Cunhal, talvez um dos principais interessados em entregar à URSS a tutela dos territórios ultramarinos, nunca se envolveu directamente no processo de descolonização, limitando-se a sua acção a meras declarações de circunstância. Em quantos encontros desde Bruxelas, Londres, Dakar, Argel, Lusaka e outros locais, onde se decidiu o futuro das colónias portuguesas, participou o Dr. Álvaro Cunhal? Mas alguém, minimamente avisado, acredita que o patrão dos comunistas portugueses, esteve inactivo nesta matéria ou se limitou a simples espectador? Seria demasiado ingénuo pensar-se assim. Não deu a cara, como aliás a maioria dos comunistas, para não criar um clima de suspeição e até medo, mas não se limitou a ser um observador atento apesar de as coisas lhe correrem de feição. A sua acção e dos seus correligionários directos manteve-se oculta, mas altamente eficaz. Manobrava na sombra e sempre muito atento ao que se ia desenrolando em todos os quadrantes da vida nacional. Conhecia perfeitamente os objectivos da descolonização (...)"
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Pg.407/9
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Pg.408
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(...) "Depois entregou-se, de alma e coração, à luta pelo poder no pequeno rectângulo com os apêndices das ilhas atlânticas. Haverá mais um protagonista da descolonização bastante badalado que, na minha opinião, se limitou a apanhar o comboio mas sem conhecer exactamente o destino desse comboio. Afirmou-se, inicialmente, pela defesa de princípios genuinamente democráticos, mas depressa compreendeu o desvario que parecia ter-se instalado no processo da descolonização. Apesar de tudo, o seu envolvimento forçado pelas funções que desempenhava — Ministro da Coordenação Interterritorial — mostrou em muitas situações, particularmente difíceis, tentar rumar contra a maré e encontrar as soluções mais adequadas naquela completa e perfeita tragédia que caiu sobre aqueles povos e os arrastaria para o lodaçal onde ainda hoje alguns sobrevivem e outros se arrastam para a morte. Trata-se, naturalmente, de Almeida Santos"(...).
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Ao rever o programa do movimento das Forças Armadas, ainda antes do 25 de Abril, quando foi chamado a protagonizar o golpe militar, em nada alterou do que nele constava a respeito da política ultramarina apesar de tal questão já ter sido objecto de acesa polémica entre os «abrilistas» com várias versões, mas vencendo a que deixava tudo em aberto e que não mereceu qualquer reparo do Gen. Spínola até ao eclodir da revolução. Após a sua concretização vitoriosa e antes de se divulgar o plano, o já Presidente da Junta de Salvação Nacional exige alterações de fundo na definição da política ultramarina que conduziram a todo um conjunto de cisões entre os revolucionários que acabaram por facilitar a missão aos verdadeiros promotores da descolonização e seus agentes. Seria inimaginável alterar os planos cuidadosamente elaborados pelos responsáveis do golpe em matéria de política ultramarina. Recorde-se, que mesmo antes do programa se tornar público, já Mário Soares se encontrara com Agostinho Neto em Bruxelas e com Aristides Pereira em Dakar. Não foi certamente tratar de assuntos privados mas, sem dúvida, preparar o terreno para o que viria a constituir uma das maiores tragédias da história contemporânea de Portugal (...)"
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Pg.430
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"MPLA – Completamente destroçado militar e politicamente, sem força e com graves problemas internos, inicia a sua recuperação logo a 2 de Maio no encontro de Mário Soares com Agostinho Neto em Bruxelas e, dias depois, com o diplomata Nunes Barata em Genebra. A partir daqui desconheço as diligências das nossas autoridades para conseguirem o cessar-fogo. Apenas tive conhecimento das dificuldades que o MPLA sentiu para encontrar um líder que só poderia ser Agostinho Neto ao qual restavam umas dezenas de guerrilheiros estacionados no conjunto fronteira de Cabinda.
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Consegue, entretanto, criar o poder popular e instalar o caos e a insegurança em Luanda. Acaba por assinar um cessar-fogo nas «terras liberadas» da chana no Leste de Angola que, para além de tudo mais, deixou a porta aberta para a formação do seu exército (as famosas FAPLA) à base da maioria dos quadros e soldados que passavam à disponibilidade com a extinção da quase totalidade das unidades das nossas forças armadas do recrutamento local. Mais uma vez numa clara posição de força, deu-se tudo - mais uma vitória do MFA com a prestimosa colaboração de Mário Soares".
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Pg463
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(...) "É importante salientar que Mário Soares, tendo iniciado uma autêntica maratona em prol da descolonização, logo após o 25 de Abril, e que teve como ponto de partida Bruxelas, onde se encontrou com Agostinho Neto e depois, para além de outros países europeus, se estendeu a África, nomeadamente Argélia, Zâmbia, Zaire, Senegal, Tunísia, nunca considerou ser importante fazer uma visita aos territórios que eram objecto de negociações visando a sua independência.
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Naturalmente que isso seria o mínimo que se poderia esperar de qualquer dos principais obreiros da descolonização se, de facto, eles estivessem preocupados em defender os interesses de Portugal dos povos desses territórios. Pelos fins de Novembro, já ninguém em Angola tinha dúvidas de que apenas os movimentos de libertação seriam os únicos interlocutores nas negociações com Portugal. Para além de outras vozes discordantes, a FUA reage através de um comunicado, denunciando a traição de que estava a ser vítima a grande maioria do povo angolano (...)"
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Pg.466
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(...)" Com este comunicado a FUA, de Fernando Falcão, parece ter acordado e denuncia toda a traição que tem envolvido o processo e confirmada pelas falsas declarações dos principais responsáveis quanto à participação de outras forças políticas. Só agora, em princípios de Dezembro, o Eng.° Falcão tomou consciência do logro em que tinha caído com as falsas promessas de Rosa Coutinho e Melo Antunes. Mas esqueceu-se de Mário Soares que, mesmo antes do enunciado dos princípios que deviam presidir à descolonização em Angola pela Junta de Salvação Nacional, já afirmava que os únicos e legítimos representantes das suas populações eram os movimentos de libertação.
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Pg.468
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(...) "A situação era nestes finais de Dezembro altamente complexa, parecendo que os campos se extremavam e que iríamos ter os dois «jogadores» em confronto no palco de Angola. Já não tinha dúvidas quanto à intenção do Rosa Coutinho e da «rapaziada» da estrutura do MFA de Angola de que tudo deveria ser conduzido de molde a dar o poder ao MPLA, como referira Mário Soares em Portugal Amordaçado. O repórter do «London Observer» escreve de Luanda a 30 de Janeiro de 1975: «O Almirante Rosa Coutinho — então Alto-Comissário português — e muitos outros oficiais portugueses aqui presentes manifestam simpatia pelo MPLA e este facto levanta suspeitas, entre os outros dois grupos e grande parte dos brancos de Angola, de que a administração planeia apoiar o MPLA.» Muito posteriormente, em 1987, quando Rosa Coutinho participou no programa canadiano «Novas Guerras de Libertação — Angola afirmou: «Eu sabia perfeitamente que não se poderia realizar naquela altura eleições, porque Angola se encontrava ainda a viver um período de turbulência... Eu afirmava então que a única saída seria reconhecer o MPLA como única força capaz de dirigir o território e que Portugal devia fazer um acordo separado com o MPLA e transferir o poder para aquele movimento na data fixada para a independência, 11 de Novembro de 1975.»(...)
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Pg.473
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(...)"A FUA luta desesperadamente para, conforme sucessivamente prometido, ter um papel activo no processo de descolonização. Esqueceu-se Fernando Falcão, curiosamente como secretário de Estado adjunto que, já em Maio, Mário Soares considerava os movimentos de libertação os únicos e legítimos representantes dos povos dos territórios colonizados e chegou a afirmar que só o MPLA e a FNLA deviam ser considerados, o que não deixa de ser insensato uma vez que estes dois movimentos tinham extremado as suas posições tornando impossível qualquer tipo de consenso. Afinal representavam confessadamente interesses externos que não se combatiam de armas na mão, conforme se deduz das palavras de Kissinger, ao apoiar a FNLA para impedir o alastramento do comunismo soviético em qualquer parte do mundo. Entretanto outras cartas são lançadas para o baralho para mais complicarem o jogo já de si muito pouco claro e com «batota» evidente da maioria dos jogadores (...)"
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Pg.504/6
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"11 de Janeiro de 1974, Hotel da Penina. (...) A peça teatral, sem qualquer ensaio prévio, visava mascarar a traição ao povo angolano e iria ter com certeza o aplauso duma parte do mundo. A farsa resultara em cheio, mas o drama catastrófico viria depois e iria arrastar-se por longos e infindáveis anos até ao holocausto final. E aquela grande parte do mundo que rejubilou na altura, hoje nem tem consciência da tragédia que ajudou a promover. Ou talvez a tenha, mas cobardemente opta por tudo branquear sem coragem para assumir a sua quota-parte de responsabilidade. Dois exemplos claros podem ser apresentados. Muito recentemente, neste Verão de 1999, Melo Antunes considerou como tragédia a descolonização da qual ele foi um dos principais condutores, enquanto o seu parceiro de acção, Mário Soares, confiando na falta de memória do povo e no oportunismo intelectual dos que sabem o que realmente se passou, cala e não tem coragem para assumir a sua própria e grande irresponsabilidade, escondendo-se por detrás de banalidades, falando da descolonização possível.
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Pg. 540
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"(Rosa Coutinho) Naturalmente não saiu satisfeito, sendo esta a primeira e a última vez em que falámos a sós. Não encontrara em mim um Rosa Coutinho disposto a apoiá-lo e a levá-lo ao poder. Entretanto também não podia contar com o seu amigo Mário Soares que se tinha aposentado da descolonização, porque outras questões mais importantes se perfilavam na sua frente como a subida ao poder em Portugal (...)"
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Cidade do Kuito completamente destruída. Eis o resultado da "descolonização exemplar".
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Perante este "excelente" currículo de Mário Soares referente à descolonização de Angola poderemos concluir que foi um dos grandes culpados pela tragédia que se abateu sobre o povo de Angola, brancos, pretos e mestiços e que provocou a destruição de um país, milhares de mortos e estropiados e que, de um país próspero e rico que era em 1975, hoje é um dos países mais pobres que tem de recorrer à ajuda internacional para subsistir porque a riqueza está nas mãos de alguns camaradas, dos kuribecas e dos previligiados.
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Por isso, o almirante vermelho Rosa Coutinho e Mário Soares são as pessoas mais execradas pelos portugueses que nasceram e viveram em Angola !
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Foram poucos os protagonistas na implementação desta estratégia mas muitos os «usados», os «oportunistas» e os «ingénuos». O cérebro da chamada descolonização foi materializado, no contexto nacional, por Melo Antunes, utilizando Mário Soares como motor de arranque que não parou até ter entregue nas mãos dos nacionalistas africanos ligados à URSS os destinos daqueles ricos e estratégicos territórios. "Nelas participavam portugueses, nossos concidadãos, traidores, que não enviando ultimatos, mas escondendo-se sob manto hipócrita dos Direitos do Homem, aí decidiram a estratégia para acabar com o tal Portugal pluricontinental e multi-racial. Mas contém essa carta de Norton de Matos um último ponto da maior relevância: «Temos dentro da nossa casa o inimigo na pessoa dos comunistas». Comunistas que foram, sistemática e arduamente, combatidos pelo Estado Novo e, aparentemente, sem sucesso. Obrigou-os a actuar na clandestinidade e causou-lhes alguns «incómodos». Mas permaneceram, engrossaram, disseminaram-se e nos últimos tempos, graças a uma boa fatia dos elementos do MFA e com Vasco Gonçalves na chefia do Governo, quase foram capazes de controlar o País, dominando todos os sectores da vida nacional. O polvo lançara os seus tentáculos, movendo-se com rapidez e segurança para garantir os tais objectivos decididos algures na Europa com a presença de compatriotas nossos e pouco tinha a ver com as tais «amplas liberdades» e a almejada democracia (...)".
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Poderá e deverá perguntar-se, porque corria Mário Soares? Mário Soares, curiosamente o que menos conhecia da realidade dos territórios africanos ligados a Portugal, era o mais activo. Mantivera, durante o exílio, alguns contactos com os principais líderes dos movimentos de libertação que, movidos por interesses raramente coincidentes com os das populações, lhe transmitiam uma imagem parcial, distorcida e falseada que não podia servir de base à acção que vinha desenvolvendo. Ao considerar os movimentos de libertação como os únicos legítimos representantes dos povos desses territórios, não incluía a grande massa de trabalhadores que nunca tinha pegado em armas mas que dera um contributo altamente válido para o desenvolvimento e progresso dessas regiões".(...)
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Mas Mário Soares não pára, emergindo como o grande condutor dos novos destinos da Nação. Durante as comemorações do 1." de Maio ao lado de Álvaro Cunhal declara, que o primeiro passo para acabar com a guerra «consistirá em negociar com os movimentos de libertação», em sintonia com as palavras de ordem do PCP que proclamam «pelo fim da guerra colonial, pela suspensão imediata de todas as operações militares nas colónias, pela abertura de negociações com o MPLA, PAIGC e FRELIMO». E curioso salientar a falta de referências aos outros dois movimentos de Angola: UNITA e FNLA. Será altura de se pôr a questão sobre o tipo de interesses que são defendidos pelos movimentos de libertação: se duma qualquer superpotência, se a ambição pelo poder dos seus líderes ou se a vontade da grande maioria das populações dos territórios onde grassava a subversão e que não aderiram a esta subversão?"
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in PortugalClub
in Mundo Phonographo
Mapa Francês de África >(c. Partilha_da_África).
Períodos das independências dos países africanos(História da colonização)..* Victor Nogueira.
Ao contrário dessa autêntica fraude histórica que é Otelo Saraiva de Carvalho, não tomei notas para a posteridade e sou um Zé Ninguém face a «homens» da envergadura daquele ou do Senhor General Silva Cardoso [1]
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A história é normalmente «escrita» pelos vencedores e pela classe dominante, pois os dominados são geralmente «analfabetos» e da sua visão ou versão ao longo da história poucos testemunhos restam. E alguns desses são escritos por «trânsfugas» como Bartolomeu de Las Casas, António Vieira duma outra Companhia, ou cuja «escrita» foi revelada pela revelação da Pedra da Roseta, devido a «traidores» como Napoleão à Revolução Francesa, combatidos pelas retrógradas forças que defendiam a «Ordem» coligados numa Santa Aliança, derrotadas pelo seu génio militar.
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O minorca e então brilhante e genial estratega militar mas desprezado corso espalhou por toda a Europa os ideias da Revolução Francesa, «Liberdade, Igualdade e Fraternidade» e permitiu o desenvolvimento do capitalismo e o domínio da então «progressista» burguesia, que então mas não hoje proclamara que «Só não há Liberdade para os inimigos da Liberdade!».
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O então poderoso Buonaparte coroou-se a si próprio imperador, humilhando o enviado do Papa, defensor da origem divina do Poder Monárquico parasitário e Absolutista aglutinado numa Santa Aliança, em contraposição ao Poder Popular falsamente defendido pela Burguesia ou 3º Estado, senhora de facto da nova Ordem e então progressista modo de produção capitalista, hoje travestido de «liberal» «economia de Mercado», apropriando-se dum sistema de troca e determinação do valor das mercadorias de existência milenária em todo o mundo, coexistindo com sistemas de Governo baseados na Escravatura ou na servidão da Gleba.
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Buonaparte foi um génio militar com tácticas inovadoras, tal como Júlio César, Alexandre o Grande, Aníbal, Gengis Khan, Filipe da Macedónia, Nuno Álvares Pereira, Vo Nguyen Giap, Nzinga Mbandi Ngola, os árabes que ocuparam a península ibérica e portadores duma civilização superior e mais tolerante que a dos intolerantes e mal-cheirosos cristãos, assim considerados pelos Japoneses.
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Robespierre, o grande «terrorista» vermelho, foi guilhotinado pelos «brancos», cujo terrorismo homens como os herdeiros da «Brigada do Reumático» esquecem. E Marat, o amigo do povo, foi assassinado à traição, tal como o anti-esclavagista Abraham Lincoln. Na altura a guilhotina foi um processo de execução da pena de morte muito mais civilizado que o utilizado pelas «parasitárias» Monarquias Absolutas, pela Santa Inquisição, pelos EUA ou mesmo pelo então «progressista» Marquês de Pombal. Note-se que não sou adepto da pena de morte, de linchamentos ou de julgamentos sumários.
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Vem o senhor General Silva Cardoso, na esteira de outros políticos apolíticos com a defesa de que a independência das colónias deveria resultar dum referendo às populações locais. Espantoso. Salazar/Caetano alguma vez realizaram eleições livres em Portugal ou nas colónias? Salazar/Caetano alguma vez permitiram a discussão do problema das colónias? Salazar/Caetano alguma vez aceitaram negociar com os movimentos de libertação para uma descolonização pacífica? Salazar e Caetano alguma vez admitiram a capacidade eleitoral e a consciência autodeterminada e a cidadania dos portugueses, sobretudo das mulheres, e dos povos das colónias? Aliás, alguém põe hoje em causa a independência de Portugal, dos Estados Unidos, do Brasil, entre muitas outras, feitas por vassalos ou colónias pela força das armas e sem qualquer consulta popular prévia?
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Salazar manobrou habilmente para se tornar o chefe todo poderoso dum regime nascido duma sedição militar encabeçada por sediciosos Generais e tenentes, mantido com a ajuda da censura dos coronéis do lápis azul e Presidentes da República recrutados nas Forças Armadas pelo partido único permitido União Nacional/Acção Nacional Popular e apeado pelos sediciosos capitães de Abril apesar das reverências dos generais da brigada do Reumático, com excepção de Spínola e Costa Gomes!
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Seguindo o pensamento do Senhor General Silva Cardoso, será fundamentada a minha «impressão» que os oficiais do Quadro Permanente que estiveram por detrás do «sedicioso» Movimento das Forças Armadas ou aceitaram fazer parte da heterogénea Junta de Salvação Nacional, quebraram o voto de fidelidade ao regime que livremente juraram defender, perdendo deste modo a honra militar? Se tivessem sido derrotados, apesar do apoio espontâneo das populações, que destino lhes reservariam o Almirante Américo Tomaz e o General Kaúlza de Arriaga?
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Tivesse vencido a ala spinolista em 11 de Março, que destino teria sido dado aos capitães de Abril? Que destino foi reservado a muitos deles após o 25 de Novembro de 1975, apesar de não terem vencido as ideias do Coronel Jaime Neves? Que democracia existiria em Portugal? Uma igual àquela que agora revela a sua face verdadeira, a «pura», iniciada com Mário Soares, Ramalho Eanes e prosseguida por Sá Carneiro e Cavaco Silva e em vias de instauração por José Sócrates, que agora «preocupa» tanto general democrata envolvido no 25 de Novembro?
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Depois há quem esteja sempre a aprender, talvez devido a uma congénita ingenuidade e falta de massa cinzenta. Mário Soares apoiante do MPLA e de Agostinho Neto? E a minha «fraca» memória regista que à revelia da Internacional Socialista ele não reconheceu o MPLA mas mantinha relações preferenciais com a UNITA e Savimbi! A Internacional Socialista a «soldo» de Moscovo? O Papa Paulo VI ingénuo cegueta ao receber os representantes da Frelimo, do MPLA e do PAIGC, para desespero de Salazar? E como classificar a heterogénea Organização da Unidade Africana que desde sempre reconheceu estes três movimentos «terroristas» como legítimos representantes dos respectivos povos, que retirou o apoio à FNLA e só em 1975 reconheceu a UNITA?.
Wiriamu um massacre inexistente ou um «dano» colateral numa guerra «limpa» e civilizada, onde aos «terroristas» eram reconhecidos os direitos da Convenção de Genebra, tratados com todo o amor, ternura e carinho militar? Nem um massacre das populações negras perpetrados pelos brancos ou pelas Forças Armadas Portuguesas? E que dizer da «liberdade» das populações negras em serem obrigatoriamente «acantonadas» em povoações aquarteladas? Corrijam-me se a minha perplexidade não tem fundamento!
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Portugal não esteve presente quando o MPLA proclamou a independência de Angola e foi um dos últimos a fazê-lo, quando muitos países do «Mundo Livre» já o haviam feito. E se o Português tem a expansão mundial que tem, não é devido à política «civilizacional» de Salazar/Caetano mas ao facto de o português ter sido adoptado pelos Governos post independência para cimentar a unidade nacional de colónias artificialmente desenhadas a régua e esquadro na Conferência de Berlim, separando e juntando povos diferentes, e porque a ONU decidiu que as independências descolonizadoras deveriam respeitar essas fronteiras artificiais.
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Estarei enganado e falho de memória ao escrever que o racista general Norton de Matos, opositor de Salazar e também insuspeito de simpatias comunistas queria transferir a capital do Império para o centro de Angola, numa cidade criada de raíz chamada Nova Lisboa, depois capital de Savimbi e da UNITA? Estarei enganado ao pensar que Champalimaud após o falhado Golpe das Caldas defendia o desenvolvimento e aproveitamento local das matérias primas com a industrialização dos territórios ultramarinos? Terei lido mal um discurso de Champalimaud em que este defenderia a mudança da capital de Portugal para Angola? Se não estou enganado, Champalimaud um traidor à Pátria a soldo de Moscovo?
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E eu a pensar que o slogan «Nem um soldado para as colónias já!" a a «Revolução a Todo o Vapor» eram palavra de ordem dos maoístas e outros ultra-revolucionários inimigos do «social-fascista» PCP, que apoiavam o «ultra» Otelo! Durante a guerra colonial havia apenas dois partidos organizados nas Forças Armadas Portuguesas: os apoiantes compulsivos ou não da União Nacional/Acção Nacional Popular bem como os oficiais da geração NATO, anti-Pacto de Varsóvia, e os membros do Partido Comunista Português que não se exilaram na Europa, antes receberam instruções para aceitarem a incorporação compulsiva nas Forças Armadas Portuguesas, que em 25 de Abril não saíram à rua em defesa dum regime político apodrecido que há muito deixara de ter apoio dos Estados Unidos da América e dos Países Nórdicos. Corrijam-me, se estou enganado.
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Alguém obrigou as licenciadas tropas locais negras a aderirem ao MPLA? Um «crime» este ter pedido o auxílio de Cuba e da URSS face ao «desinteressado» auxílio militar estrangeiro prestado por um corrupto Mobutu ou pela racista e internacionalmente condenada União Sul Africana? Militarmente derrotado o MPLA? E então qual a situação da UNITA? Estão enganados aqueles que dizem que esta foi uma criação do General Costa Gomes e da PIDE, explorando o tribalismo para atacar como aliado o «nacionalista» MPLA?
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Lembro-me duma entrevista na Televisão Portuguesa feita em simultâneo ao engenheiro Eduardo dos Santos e ao Dr. Jonas Savimbi. à mesma pergunta do jornalista, o primeiro afirmou que o MPLA reconheceria e aceitaria o veredicto popular. Já Savimbi afirmou que apenas aceitaria a vitória da UNITA. É verdade ou não que os resultados eleitorais, favoráveis ao MPLA em eleições cujo resultado foi internacionalmente reconhecido, foram recusados pela UNITA, o que deu origem à sangrenta guerra civil angolana, aceitando Savimbi o apoio do regime do Apartheid?
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Critica-se Rosa Coutinho de ter desarmado os brancos em Luanda, os mesmos que vítimas de lavagens ao cérebro durante treze anos, da cegueira de Salazar e da tibieza de Marcelo, defensores do não racismo, em Angola e Moçambique tenham pedido a intervenção da União Sul Africana e apoiado a RENAMO e a UNITA? Que seria da unidade angolana e dos portugueses se Savimbi tivesse ganho a guerra? Quem teriam apoiado a maioria dos brancos de Angola se em Luanda estivessem armados e envolvidos na guerra entre a UPA/FNLA, a UNITA e o MPLA? Quantos teriam regressado vivos a Portugal, onde o seu dinamismo e «vistas largas» de muitos foram um alento para o desenvolvimento económico e refizeram com mais ou menos sucesso a sua vida, com olhos no futuro e genericamente integrados na democracia nascida com o 25 de Abril?..
[1] - Angola, Anatomia de uma Tragédia, do General Silva Cardoso.
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