Um local de alguma cultura, mas também alguma estupidificação, como é revelador ter chegado aos quase 50 anos sem ler o D.Quixote do Cervantes, o próprio, depois de ter perdido tanto tempo a ler tanta treta...Já agora, fale-se aqui muito de Angola...E do resto,desde que não pessoalizem quem não é figura publica como é o meu caso e o meu ocaso!
sábado, maio 03, 2008
Água vai!
JORNAL DE ANGOLA online - Notícias de Angola para o Mundo
Agostinho Neto não é um poeta medíocre
Pires Laranjeira
José Eduardo Agualusa (n. em Angola, Huambo, em 1960) considerou, como
se sabe, numa entrevista ao Semanário Angolense, que Agostinho Neto (n. em
Angola, Icolo-e-Bengo, em 1922; m. em Moscovo, em 1979) é um “poeta
medíocre”. Ele ainda associou dois outros poetas angolanos da Geração da
Mensagem e Cultura (II )(anos 50), salvando, por exclusão de partes, o poeta
Viriato da Cruz, do qual é um admirador confesso: “uma pessoa que acha que
Agostinho Neto foi um poeta extraordinário é porque não conhece
rigorosamente nada de poesia, (…) foi um poeta medíocre (…) o mesmo se
pode dizer de António Cardoso ou António Jacinto”. Para perceber esta
afirmação, é necessário ter em conta que apenas são conhecidos 12 poemas
de Viriato, incomensuravelmente menos do que os de António Cardoso e
António Jacinto, tendo este último escrito também uma meia dúzia tão
importante, consagrada e conseguida quanto a meia dúzia daquele (em
Portugal, para quem não saiba ou não se recorde, o grupo Trovante e Sérgio
Godinho tiveram grande êxito, nos anos 80, cantando um poema de Viriato,
“Namoro”, que a maior parte do público pensava ser um texto português).
A minha opinião é que, para Agualusa, os dois Antónios são “medíocres”, não
por que o sejam, mas por terem continuado no MPLA, até falecerem, sempre
ao lado de Agostinho Neto, enquanto Viriato foi um adversário politicamente
derrotado no interior do movimento, no início da década de 60. Agualusa, de
facto, não consegue desligar a qualidade literária do percurso político das
pessoas. Do mesmo modo se pode dizer que, se os leitores de Agualusa
avaliassem os seus textos literários pelas opiniões que expende a propósito dos
assuntos mais variados, como aquela afirmação inacreditável de que a língua
portuguesa nasceu na Galiza (omitindo Portugal, porque lhe dava jeito,
naquele momento, agradar ao público africano e brasileiro), seriam forçados a
concluir que ele, muitas vezes, exagera, diz coisas mirabolantes ou mesmo
delirantes, é impreciso e inexacto, entre outras menos abonatórias, como a de
diminuir a poesia de uma referência nacional. A questão principal é que
Agualusa age como um cabotino que diz coisas extraordinárias, por exemplo, a
respeito de Saramago, classificando-o como um “niilista” e um “velho”, quando
qualquer leitor percebe que o Nobel é um escritor sério, responsável e
respeitável.
Às declarações de Agualusa ao semanário angolano, seguiram-se as reacções
de vários intelectuais, entre os quais Artur Queiroz, António Fonseca, Sousa
Jamba e Luís Kandjimbo, com alguma repercussão na comunicação social
portuguesa, embora sem o alcance registado em Angola, até obviamente pelas
diferenças de espaço concedido (em Portugal, circularam breves notícias) e
porque o calor da refrega tem o seu epicentro, de facto, em Luanda. Agualusa
saiu chamuscado e, depois, queixou-se de que, aproximando-se as eleições em
Angola, se tratava de uma intimidação, sobretudo porque um universitário
angolano da área do Direito punha a hipótese (absurda, é verdade) de ele
poder ser responsabilizado criminalmente por atentar contra o nome de uma
figura icónica do Estado e da Nação.
http://www.jornaldeangola.com/artigo.php?ID=82945&Seccao=cultura (1 of 4) [27-04-2008 20:01:00]
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